VEJA
Uma gota no oceano...
...é o que representam os valores suspeitos no gigantesco montante
gasto pela Petrobras. Mas nem por isso eles devem ser menosprezados
Monica Zarattini/AE |
SERGIO GABRIELLI preside a Petrobras, a 34ª maior empresa do mundo |
Por qualquer ângulo que se olhe, a Petrobras é um colosso. Emprega 55 000 pessoas, investe 150 milhões de reais por dia e mantém operações em 23 países. Com 280 bilhões de reais de faturamento, é a 34ª maior companhia do mundo. Como qualquer empresa desse porte, sobretudo estatais, está sujeita a sofrer com desvios financeiros. Na última edição de VEJA, o colunista Diogo Mainardi começou a jogar luz sobre um desses casos: a diretoria de abastecimento da Petrobras havia contratado duas empresas – a R.A. Brandão e a Guanumbi Promoções – para realizar mais de uma centena de pequenos serviços, sem licitação, ao custo de 8,2 milhões de reais. A R.A. e a Guanumbi pertencem à mesma pessoa, Raphael de Almeida Brandão, e estão registradas em um único endereço, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
A Petrobras se apressou em negar irregularidades, mas informou que o funcionário responsável pelos pagamentos havia sido demitido por justa causa. O caso esquentou. O jornal O Globodescobriu que Raphael de Almeida Brandão tem em seu nome uma terceira empresa, a Sibemol, que também recebeu 120 000 reais da Petrobras, mas está registrada em um endereço-fantasma, onde funciona um canil. Na quinta-feira, a estatal admitiu que, entre 2003 e 2009, as três empresas suspeitas foram contratadas 268 vezes e embolsaram 11,6 milhões de reais. Há indícios de que parte dos serviços não foi realizada. O responsável pelos repasses, Geovane de Morais, tornou-se alvo de sindicância por ordenar despesas de 120 milhões de reais sem autorização de seus superiores.
Em comparação com o faturamento da Petrobras, o valor é irrisório. Além disso, o culpado foi identificado e punido. Isso mostra uma gestão dos processos de pagamento compatível com a reputação e o tamanho da empresa. Não podia ser diferente. A Petrobras, controlada pelo governo brasileiro, que detém 56% das suas ações ordinárias (mas só 32% do capital total), é uma companhia de capital aberto. Seus donos contam-se aos milhares – são acionistas privados, um terço deles estrangeiros, que têm 68% do capital total. Esses donos privados pagam um exército de consultores e analistas para vigiar seu patrimônio. Eles ocupam quase um andar inteiro na sede da Petrobras, logo abaixo do andar da presidência. Essa situação torna um tanto incompreensível a reação defensiva exagerada da direção da empresa à instalação da CPI no Congresso. A Petrobras deveria estar ávida por exibir em palco privilegiado seus mecanismos de controle e gestão. Ao agir na defensiva, permite aos parlamentares e à opinião pública supor que a empresa tem algo a esconder.