O ESTADO DE S. PAULO
Na teoria elaborada e difundida pelo Palácio do Planalto, o PMDB será o parceiro preferencial do PT nas eleições de 2010. Nem que isso custe o que resta de reputação aos petistas e a desistência do partido de conquistar, manter ou retomar governos de Estados importantes.
Na tese defendida hoje pela direção do PMDB, o partido vai decidir logo, em novembro, enquanto não definha o poder do presidente em retirada, o apoio oficial à candidatura da ministra Dilma Rousseff.
Dará ao PT seu precioso tempo de rádio e televisão no horário eleitoral, sua monumental estrutura partidária no País todo, nem que isso custe o risco de ver o PT ultrapassá-lo na quantidade de representantes no Congresso.
A questão é que, na prática, nenhum dos dois partidos tem atuado de acordo com as respectivas normas escritas. Em boa medida, chegam mesmo a contrariar decisões tomadas em nome da "aliança maior" depois de pagar por elas um preço altíssimo.
O PT, por exemplo. Curvou-se à exigência do presidente Luiz Inácio da Silva e recuou na confrontação com o presidente do Senado, José Sarney. Zigue-zagueou, ficou mal com todo mundo, mas cumpriu a ordem alegadamente dada para manter o PMDB fora da esfera de influência da seara oposicionista.
Pois, ato quase contínuo, no último domingo o PT oficializou a candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao governo do Rio Grande do Sul. Embora a ideia aludida pela direção nacional fosse tentar uma composição com o PMDB local, os petistas dispensaram tratativas e deram por consumado o fato.
A missão era difícil? Praticamente impossível. Mas, não há registro de que o Rio Grande do Sul estivesse sendo tratado como uma exceção à regra. Tanto não estava que Tarso Genro tratou logo de estabelecer a diferença de calendários dos interesses nacionais e das conveniências locais.
"A experiência mostra que a demora na definição de candidaturas dificulta a composição das alianças", disse. Depreende-se disso que o ministro esteja estendendo a mão ao PMDB, mas sob a condição de ficar dono da cabeça da chapa.
Como não é crível que o PT gaúcho - cujo candidato é um ministro - ou qualquer outra seção do partido esteja em guerra com o presidente da República, algo não fecha nessa conta.
Muito antes disso, mas já depois de validados os termos do acordo entre PT e PMDB, a disputa pela presidência do Senado já havia produzido cenas de pura contraposição à política de boa vizinhança preconizada por Lula.
O senador Tião Viana lançou sua candidatura à presidência do Senado em setembro de 2008, numa antecipação típica de quem desconfia de que há algo mal parado no ar e busca se prevenir. Em tese, não seria necessário, pois estava acertado que o PMDB presidiria a Câmara e o PT o Senado.
O PMDB, entretanto, resolveu brigar pelo poder. Ganhou, mas não levou. Atribuiu suas agruras à reação vingativa dos petistas, o que, convenhamos, não é coisa de parceiros.
Em Salvador, a eleição municipal - pelo mesmo motivo de quebra de acertos e apresentação de candidatura própria - terminou em clima de puro rififi entre o governador petista Jaques Wagner e o ministro pemedebista da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.
Este avisou àquele que se a regra era cada um por si na municipal também seria na estadual dali a dois anos. Dito e feito, Vieira Lima rompeu com Wagner e já anuncia que será candidato a governador ou a senador sem ligar seu destino aos planos do PT.
No Rio de Janeiro, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria, pode até perder a parada para o governador do PMDB Sérgio Cabral, mas cairá atirando. Como, de resto, já faz mesmo antes de cair.
Em Minas Gerais, a direção nacional não teve força (ou interesse) para enquadrar Fernando Pimentel quando da aliança do então prefeito de Belo Horizonte com o governador tucano Aécio Neves. Dificilmente terá agora para obrigar Pimentel, Patrus Ananias ou quem venha a ser o candidato do PT a apoiar Hélio Costa, do PMDB.
O que dizer, então, de São Paulo, onde o mandachuva do PMDB, Orestes Quércia, já fechou acordo com o governador do PSDB, José Serra? Pode haver mudança de rumo? Pode, mas mediante uma confusão de enorme tamanho.
Em Pernambuco, o PMDB tem na liderança o senador Jarbas Vasconcelos, um dissidente, e a influência de ninguém menos que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra.
As dificuldades não representam obstáculos intransponíveis à formalização de uma aliança PT-PMDB para 2010. Até porque a regra vigente não obriga a que as coligações regionais sigam o modelo das chapas nacionais.
Mas a existência de incongruências entre a parceria pretendida e as divergências praticadas revela, no mínimo, que não há unidade nem razoável consenso de propósitos entre as partes para assegurar a entrega das respectivas mercadorias prometidas. Há mais conflitos a separar que harmonia a unir PT e PMDB.
Entrevista:O Estado inteligente
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