Da democracia ao fisiologismo
Ricardo Chaves |
As raízes do PMDB tiveram a firmeza solene de Ulysses Guimarães(discursando em 1973, quando o partido ainda se chamava MDB). Hoje, a legenda fica com quem dá mais |
O PMDB é o partido político brasileiro com o maior número de filiados, prefeitos, vereadores e governadores. É também dono da maior representação no Congresso Nacional. Goste-se ou não dele, o PMDB tem sido há quase duas décadas o fiel da balança da vida parlamentar brasileira. Quase tudo o que existe de avançado e moderno na política hoje, como quase tudo o que sobrevive de arcaico e disfuncional, teve uma participação decisiva do PMDB. Isso sem que se saiba ao certo qual sua linha programática, sua ideologia ou que país seus líderes têm na cabeça.
Sob o comando do deputado paulista Ulysses Guimarães, a agremiação comandou a Assembleia Nacional Constituinte em 1988. Ajudou a moldar as feições do texto constitucional influindo especialmente no estabelecimento insustentável de direitos sem deveres – e na redação retrógrada dos capítulos econômicos, que criaram despesas sem receitas e cuja aplicação teria inviabilizado as contas públicas não tivessem eles sido rapidamente reformados.
Com presença em quase todos os escândalos recentes em Brasília, o PMDB está de novo no centro do debate político sob péssima luz. Sua numerosa bancada, porém, é tratada a pão de ló pelo Palácio do Planalto e por todos os candidatos viáveis à sucessão do presidente Lula em 2010. Essa química volátil que tenta juntar o intolerável ao desejável está na raiz da instabilidade que faz da política um dos campos em que o Brasil ainda não saiu das trevas. Como, ao que parece, o destino da nação está amarrado ao do PMDB, é vital tentar entender se o partido é mesmo a encarnação do mal ou apenas aquele que melhor se aproveita dos incentivos ao fisiologismo e à corrupção oferecidos pelas atuais regras da política brasileira. A reportagem desta edição de VEJA que começa na página 66 tenta justamente dar uma resposta a essa perplexidade.