Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 21, 2009

Villas-Bôas Corrêa O generoso perdão dos adesistas

 JORNAL DO BRASIL

O intransigente líder sindical, o mais importante e raçudo, que fundou o Partido dos Trabalhadores, o PT de medíocre e desastrada atuação parlamentar, não chegou a mudar do vinho para água salobra como presidente da República, mas Lula não é o mesmo nos dois mandatos da reeleição, que sempre foi contra para os outros.

E, desde que o PT se enlameou com as trampas do caixa dois para garantir a eleição de uma poderosa bancada no Congresso e com o mensalão que salpicou nas lideranças do partido da bandeira ética, Lula foi afrouxando o rigor até chegar à virtual adesão ao vale tudo para manter o poder.

Na rolagem de morro abaixo, nos últimos atos da comédia de pastelão, pisoteou a ética para justificar o descaro. No flagrante mais expressivo, abraça o senador Collor de Mello, o ex-presidente que ajudou a derrubar e justificou a cambalhota com uma frase exemplar, juntando dois proveitos no mesmo pacote: "Quero fazer justiça ao senador Collor e ao senador Renan Calheiros que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado".

Como "sustentação muito grande ao governo" entenda-se os votos para aprovar tudo o que interessa ao governo e rejeitar iniciativas da oposição que aborrecem o presidente.

Na bagunça do pior Congresso desde a derrubada da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de l945, o presidente Lula tem mais culpas no cartório que toda a esquálida oposição, que só aparece na mídia pela atuação dos seus líderes, especialmente no Senado, palco do escândalo-mor de todas as falcatruas para tungar o dinheiro público.

Lula, apertado, reage com a descolorida escapulida pelo óbvio: se há denúncias, devem ser apuradas e punidos os responsáveis, tal como já pontificava, apontando o dedo para o alto, o Conselheiro Acácio.

Como o próprio reconheceu, a sua prioridade política até o fim do mandato bisado é eleger a candidata que escolheu e impôs ao PT acoelhado, a ministra Dilma Rousseff. Passou pelo susto do câncer linfático, depois das sessões de quimioterapia, concluídas com êxito e 90% de probabilidades de cura, depois da segunda etapa. Com a candidata em forma, a pré-campanha que burla a Constituição voltará aos comícios com a visita às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e mais o Minha Vida Meu Voto, com a promessa da construção de 1 milhão de residências populares.

Como o presidente aprendeu nos giros pelo mundo, a mágica de multiplicar as verbas para as típicas obras eleitoreiras, um vício que vem do Império, não faltará dinheiro para o lançamento de novos programas sociais, como o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação, o Bolsa Merenda na medida das necessidades da campanha, conferidas pelos índices das pesquisas.

As férias parlamentares, que soam como deboche no Congresso da semana útil das terças às sextas-feiras, vieram na hora exata para o intervalo que o governo espera que amorteça os escândalos que se sucedem com a regularidade de um cronômetro suíço.

Até a reabertura do Congresso, Lula terá muitas horas vagas, entre viagens internacionais e domésticas, para o balanço e a eventual revisão dos resultados e riscos do truque de transformar adversários em amigos de infância para atender às oscilações políticas. Na primeira campanha em que terá participação decisiva como patrono da candidatura da ministra Dilma Rousseff, o objetivo prioritário da vitória eleitoral não pode ignorar a preocupação com a remontagem da maioria na Câmara e no Senado, sem a qual o governo patinará sem sair do lugar.

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