O GLOBO
Mais que definir qual será o candidato à Presidência da República, os partidos de oposição estão travando uma dura batalha de bastidores para decidir a melhor estratégia para os próximos meses. O governador de São Paulo, José Serra, em tese o favorito, decepcionou os dirigentes dos Democratas que jantaram com ele na quinta-feira. Querendo dar a partida para o enfrentamento com o governo, o DEM encontrou um candidato arredio, que se declarou impossibilitado de iniciar uma campanha já este ano, alegando questões institucionais para refrear os ímpetos oposicionistas de seu principal aliado. Já o governador Aécio Neves, que perdera espaço dentro das articulações com o DEM, avançou alguns passos adiante se encontrando com dirigentes democratas no próprio território de Serra.
Estando em São Paulo para uma conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, o governador de Minas recebeu do presidente do DEM, Rodrigo Maia, a notícia de que o partido pretende fazer em Belo Horizonte a mesma reunião que fez com Serra, para mostrar que não tem preferências. Segundo Maia, o nome de Aécio já foi muito forte no partido, ficou muito fraco e hoje está voltando a ter espaço porque, enquanto Serra está muito arredio, Aécio voltou a conversar com as pessoas, voltou a procurar o DEM.
Se essa declaração de neutralidade já parece uma mudança considerável de posicionamento político, nos bastidores sabe-se que a decisão de Aécio de iniciar uma campanha nacional soa como música aos ouvidos dos democratas, que consideram perda de tempo não realizar logo uma mobilização, diante da exposição que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, está tendo.
Enquanto o governador José Serra prefere não iniciar uma campanha até o ano que vem, alegando, segundo relato de membros do DEM que participaram da reunião, que sendo governador tem "questões institucionais" que o impedem de aprofundar as críticas ao governo federal neste momento de crise econômica, o governador Aécio Neves e os integrantes do DEM concordam que é preciso a oposição se mobilizar.
O governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, disse na reunião que "ou se ganha na política ou não tem vitória eleitoral". Na segunda-feira, houve a primeira reunião dos três partidos de oposição - PSDB, PPS e DEM -, em São Paulo, que teve a palestra de Drew Westen, assessor político ligado aos democratas americanos, que participou da campanha de Barack Obama, autor do livro "Political Brain" ("Cérebro Político").
Segundo ele, o grande pecado de Obama depois de eleito é que ele não está contando a história da crise, não está querendo responsabilizar George Bush pelos problemas que os Estados Unidos estão vivendo. Daqui a pouco, disse ele, o cidadão vai ver aquela história mal contada e vai pensar: pelo menos no governo Bush eu estava empregado.
O presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia, acha que o problema da oposição é esse: "Ou a gente conta a história do governo Lula, faz a crítica à incompetência dos projetos do PAC que não andam, a crítica ao inchaço da máquina, à incompetência do governo, à corrupção do governo e de seus aliados, à irresponsabilidade do Lula, que tratou da crise com deboche, e agora estamos pagando um preço altíssimo, ou então daqui a pouco teremos um governo forte no meio de uma crise pela qual ele não é responsável".
Lembrando que o próprio ex-presidente Fernando Henrique dissera outro dia que todas as crises que enfrentou vieram de fora, e nem por isso deixaram de culpá-lo, Maia diz que "política é personalista, temos que ter um vocalizador". Na mesma reunião, Serra foi cobrado pelo ex-deputado Luis Carlos Santos pela frase em que dizia que a crise era uma responsabilidade dos três níveis de governo, federal, estadual e municipal. "Ou a gente é oposição ou vai perder a eleição", cobrou Santos.
O governador José Serra tem limitado suas críticas ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o deputado Rodrigo Maia diz que o partido discorda dessa posição: "Nós só falamos bem dele. Achamos que o BC tem que ser independente, e o Serra não. Ele é intervencionista, nós somos liberais", comenta o presidente do DEM.
Para ele, quem vai disputar uma eleição presidencial tem que resolver os palanques regionais, movimento político fundamental, e Serra "não quer saber disso por enquanto". Enquanto isso, ressalta, "eles estão operando para a Dilma, e nós ficamos olhando", dando como exemplo o "Blog da Dilma", lançado por um grupo de correligionários.
Mas, mesmo insatisfeitos com a falta de disposição de Serra para dar início a um processo de oposição formal ao governo, o DEM não apenas não quer definir qual o melhor candidato, que deve ser tarefa do PSDB, como não quer apressar o processo: "O prazo é o que gere unidade. O ideal é o mais rapidamente possível, mas, se precisar de um ano para ter unidade, vamos aguardar", diz Maia.
Por sua vez, o governador Aécio Neves diz que sua proposta de viajar pelo país "é racional". "O que eu quero é contrapor nosso movimento ao do governo, que vai crescer. Vamos viajar pelo país nos fins de semana, vamos unir as oposições, DEM e PPS para fazer grandes movimentações. Se nós fizermos esses eventos juntos, acaba com a ideia de que vamos ficar divididos", diz ele.
"Temos uma chance real de vencer as eleições, mas numa disputa que não é simples. Não vamos subestimar a Dilma", adverte o governador de Minas. (Continua amanhã)