Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 20, 2009

CELSO MING Injeção na veia


O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não inventou moda quando anunciou quarta-feira que compraria US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos.



Os bancos centrais do Japão, da Suíça e da Inglaterra também vêm comprando títulos públicos de longo prazo com o objetivo declarado de derrubar os juros, operação que vem sendo chamada de alívio quantitativo (quantitative easing), e, dessa forma, melhorar as condições de refinanciamento das dívidas imobiliárias.



Diante da inércia dos governos nacionais do bloco do euro, não será surpreendente se o Banco Central Europeu enveredar pelo mesmo atalho e se puser a derrubar os juros de longo prazo para forçar os bancos a voltarem às operações de crédito.



Além de atuar para a derrubada dos juros, o Fed aumentou a recompra de títulos lastreados em hipotecas em poder das mega-agências Fannie Mae e Freddie Mac, que equivale a uma injeção de recursos na veia da economia que, no momento, os tesouros se recusam a fazer.



Se isso vai dar certo (ou não) terá de ser avaliado a seguir. Efeito colateral desses movimentos dos bancos centrais é o encorajamento ao risco (alta das bolsas) e a notória recuperação das cotações das matérias-primas.



Ontem, por exemplo, os preços do barril de petróleo voltaram a fechar em Nova York acima dos US$ 51 por barril de 159 litros. O gráfico ajuda a recompor a trajetória dos 12 últimos meses. O pico dos preços foram os US$ 145 atingidos em julho de 2008. A seguir, o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, a crise financeira e a recessão derrubaram as cotações do petróleo para US$ 34, atingidos em janeiro. De lá para cá, começou a lenta recuperação.



A alta de 10% apontada nesta semana até ontem parece ter a ver, em parte, com certa recomposição de estoques. Mas reflete, também, a desvalorização do dólar diante das outras moedas fortes, especialmente diante do euro (queda de 4,5% nos últimos dois dias) e do iene (queda de 4,0%), em grande parte consequência da decisão do Fed de derrubar os juros de longo prazo de forma a facilitar o refinanciamento das hipotecas nos Estados Unidos. (Como o petróleo é cotado em dólares, a desvalorização da moeda americana passou a induzir mais dólares por barril.)



Movimentos semelhantes estão ocorrendo nos preços das demais commodities. O gráfico mostra que, depois de relativa estabilização entre janeiro e março, as cotações já apresentam tendência de alta, também explicável tanto pela necessidade de recompor estoques como pela desvalorização do dólar.



Dentro de mais algumas semanas será possível avaliar os efeitos da nova atuação do Fed e demais bancos centrais sobre as exportações brasileiras, que continuam fortemente influenciadas pelos preços das commodities.







Confira





Caiu à metade - Não durou uma semana a sustentação feita em Washington pelo ministro Guido Mantega de que o PIB brasileiro deste ano cresceria 4%. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, apontou ontem o novo número oficial: avanço de apenas 2%.





Além do impacto econômico propriamente dito (queda da produção, do emprego e da renda), essa desaceleração terá consequências políticas.





A quebra da arrecadação deixará muitos projetos sem verba e sem financiamento. E, nessas condições, a mãe do PAC terá mais dificuldades para mostrar resultados.

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