Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 21, 2009

Crise O Brasil mostra suas armas aos investidores

Economia
O BOM DESAFIO

Os juros do governo caem ao menor valor da história do real.
Falta agora fazer essa redução chegar a consumidores e empresas


Giuliano Guandalini

Ricardo Stuckert/PR
VENDENDO CONFIANÇA Meirelles, presidente do BC, em palestra no Plaza
de Nova York: nova ação para forçar os bancos a diminuir o custo do crédito


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Crise econômica e juros altos sempre andaram juntos. Foi assim em 1999, quando a taxa básica do governo, a Selic, atingiu 45% ao ano após a desvalorização do real. Ou em 2002, quando os juros foram a 25% durante a campanha que elegeu o presidente Lula. Os brasileiros veem-se agora diante de um dilema novo. Com a inflação sob controle e a necessidade de estimular a economia, o Banco Central está prestes a reduzir a Selic para um patamar inédito. Dá-se como certo que a taxa, hoje em 11,25% ao ano, cairá para menos de 10% nos próximos meses – o que seria a menor da história. Descontada a inflação, os juros reais estão em 5%, algo nunca visto. É no mínimo curioso que o país esteja perto de chegar a níveis de juros considerados normais justamente durante a maior turbulência do capitalismo financeiro moderno. Essa contradição advém de dois fatores. Um deles é a estagnação econômica, que mantém a inflação em um nível baixo. O outro é a estabilidade conquistada nos últimos quinze anos e mantida de forma exemplar no atual governo. Esses fatos estiveram no centro das apresentações feitas na semana passada em Nova York pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ao lado do presidente Lula, ambos participaram de um seminário sobre a promoção comercial do Brasil. Os dois listaram motivos para acreditarmos que o país vai resistir à crise. Falaram dos desafios. O principal deles: os juros do governo caem, mas os juros bancários permanecem elevadíssimos. Por que isso ocorre? De acordo com fontes da equipe econômica, porque falta cada vez mais concorrência no sistema financeiro. Segundo os bancos, há muitos impostos sobre o crédito, e o risco de emprestar ainda é alto. Seja qual for a causa, o problema agravou-se após os bancos estrangeiros terem cortado suas linhas a empresas brasileiras. E depois que as instituições nacionais de pequeno porte passaram a ter restrição de capital. Como consequência, uma meia dúzia de grandes instituições locais sentiu-se confortável para aumentar suas taxas.

O governo prepara duas medidas para forçar os bancos a baratear o custo do dinheiro na economia. Uma das iniciativas será o uso das reservas internacionais como garantia para empréstimos de bancos estrangeiros a empresas brasileiras. Outra é estimular a capitalização dos bancos pequenos para que eles voltem a emprestar. Uma opção seria ampliar o valor assegurado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – fundo esse que, atualmente, cobre depósitos de até 60 000 reais, mesmo que um banco fique insolvente. Com mais garantias, os poupadores voltariam a pôr recursos em bancos menores, que, por sua vez, voltariam a emprestar a empresas e consumidores, restabelecendo a concorrência no sistema financeiro.

Outro desafio na agenda do governo será alterar a fórmula de cálculo dos rendimentos da poupança. Se nada for feito, as cadernetas, que hoje rendem algo em torno de 7% ao ano, passarão a oferecer um retorno mais atraente do que a maioria dos fundos de investimento. Isso fará com que os recursos migrem maciçamente para a poupança. E por que isso é ruim? Porque o lastro desses fundos são títulos públicos e privados. Se ninguém mais investir nessas aplicações, faltará dinheiro para financiar as empresas, os bancos e até mesmo o governo – uma tragédia impensável, especialmente neste momento de crise financeira. A solução passará inescapavelmente por uma decisão impopular de reduzir a rentabilidade da poupança. Esse desafio revela a dificuldade inerente à administração da política econômica. Uma queda abrupta da Selic, por exemplo, traria mais problemas do que soluções se o terreno não tivesse sido preparado antecipadamente.



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