Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 20, 2009

MERVAL PEREIRA -Dúvidas cruéis

O GLOBO
No centro das crises políticas atuais, o PMDB se movimenta para reorganizar suas fileiras e não sair queimado na disputa pelos espaços de poder com o PT. A eleição para a presidência do Senado deixou sequelas, entre as mais visíveis a troca de acusações entre os grupos que apoiam o novo presidente, José Sarney, e o candidato petista derrotado, Tião Viana. Numa visão mais genérica, o fortalecimento do PMDB dentro do governo, depois que o partido explicitou a força proveniente das urnas municipais com a conquista das presidências das duas Casas do Congresso, fez com que o PT se sentisse desprestigiado pelo presidente Lula, que de fato está mais interessado em manter o PMDB atrelado à candidatura da ministra Dilma Rousseff do que em aplacar os ciúmes do PT.

Mesmo porque o PT não tem escolha, enquanto o PMDB pode ir para qualquer lugar do quadro político, com o dom de fortalecer quem apoiar. Mas uma coisa depende da outra: as denúncias contra o PMDB podem fazer com que sua força política se transforme em fraqueza.

Essa percepção acendeu o sinal de alerta entre as principais lideranças do partido, que trataram de traçar uma estratégia para dar fim a esse tiroteio de “fogo amigo” que pode ser fatal às suas pretensões.

Na noite de quarta-feira, duas reuniões em Brasília trataram da questão. Uma, reunindo as principais lideranças no Senado, tentou apaziguar os ânimos, enquanto ao mesmo tempo alguns dos ministros do PMDB discutiam como aprofundar suas atuações dentro do governo para solidificar a posição de parceiro preferencial.

O senador Tião Viana, que havia prometido apontar mazelas dos colegas da tribuna do Senado, foi convencido a não fazê-lo, não se sabe à custa de que argumentos.

O PMDB, por sua vez, cedeu ao PT o cargo de líder do governo no Senado.

A senadora Ideli Salvatti, atropelada pelo acordo do PMDB com o PTB na indicação de Collor para a Comissão de Infraestrutura, ganhou o cargo que era exercido pela senadora Roseana Sarney.

Uma mão lava a outra, e todas as bocas ficarão seladas daqui por diante, até que nova disputa por cargos desencadeie outra crise.

O partido em si continua empenhado em participar da chapa situacionista na condição de vice, mas monitora as consequências da crise econômica para ver para que lado o vento soprará.

As consequências da “marolinha” já estão obrigando o governo a rever suas metas, embora continue sonhando com um crescimento positivo para poder dizer que, apesar de toda a recessão mundial, a economia do Brasil ainda assim cresceu.

Esse mesmo raciocínio não valeu, por exemplo, para o ano de 2001, quando, apesar da crise argentina e dos ataques terroristas aos Estados Unidos, o país ainda assim cresceu 1,3%.

Resultado pífio, justamente rebarbado pelo PT, que o mostrou à opinião pública como consequência do fracasso das políticas tucanas, especialmente da crise de energia que obrigou o governo a adotar o racionamento para evitar o apagão.

Fazer um orçamento prevendo um crescimento de 4,5% já era exagero, e o Congresso cortou para 3,5% antes de a crise eclodir. Mesmo depois dela, o otimismo oficial propagava um crescimento de 4%, o que era visivelmente uma meta política absurda diante da gravidade da situação.

Logo depois da quebra do Lehman Brothers, os economistas já previam um crescimento de 2,5%, que na verdade era apenas o carr y over de um crescimento de 2008 que se previa próximo de 6%.

O resultado de queda de 3,6% no PIB do último trimestre do ano passado fez com que todos, rigorosamente todos os analistas rebaixassem as previsões para um máximo de 0,5% de crescimento, sendo que a opinião de que haverá um crescimento negativo começa a predominar.

O máximo que o governo conseguiu foi rever sua estimativa para crescimento de 2% do PIB, o que ainda é de um otimismo que beira a irresponsabilidade.

Menos mal que também já começa a se mexer para desfazer promessas de contratações e de aumentos para o funcionalismo, diante da necessidade de corte de R$ 21,6 bilhões no Orçamento de 2009.

Entre a retórica governamental ufanista e a realidade, o governo Lula escolhe os dois. O que tem seu lado bom. Ao mesmo tempo em que continua se vangloriando de comandar um país que não será afetado pela crise internacional, Lula vai tomando suas providências, pois já mostrou que seu senso político se guia pelo pragmatismo.

O PSDB tem razão quando diz que o governo Lula é melhor do que o dos tucanos na divulgação de seus feitos, mas pode estar cometendo mais um erro político ao estimar que a crise econômica levará de roldão a popularidade de Lula.

O PSDB já errou quando, na campanha de 2002, pensou que o eleitorado resistiria a eleger o bicho-papão Lula, não notando que ele já assumira o personagem Lulinha, Paz e Amor.

Errou mais uma vez na crise do mensalão, quando imaginou que Lula sangraria em praça pública até perder a reeleição.

E está errando ao atrelar sua certeza de que elegerá o próximo presidente da República ao fracasso de Lula por causa da economia.

Um especialista em eleições me disse certa vez que, sempre que o sujeito da frase em uma campanha é o adversário, é sinal de que você já perdeu.

Por enquanto, o sujeito da campanha de 2010 continua sendo Lula, mesmo que ele não esteja na cédula eleitoral.

Será que ele conseguirá transferir sua popularidade para Dilma? Será que ele continuará popular mesmo com a crise econômica? São dúvidas cruéis que afligem igualmente o PSDB e o PMDB.

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