Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 22, 2009

Marolinha que virou tsunami Yoshiaki Nakano DEU NA

FOLHA DE S. PAULO

Os que perderam o emprego reduzirão a demanda, o que levará à queda na produção e gerará novas demissões

TINHA RAZÃO nosso presidente quando disse que a crise financeira mundial chegaria ao Brasil suavemente e seria transitória. Estávamos construindo um círculo virtuoso de crescimento baseado no aumento de emprego e de salários, acompanhado de elevação na produtividade, desenvolvendo um dinamismo baseado na expansão do mercado interno. Mas a incapacidade de diagnosticar e a excessiva cautela das autoridades monetárias fizeram a marolinha virar tsunami. O FMI estimou a queda do PIB global no quarto trimestre de 2008 em 5% (taxa anualizada), 6% nos EUA e na zona do euro e 13% no Japão. Pelo mesmo critério, a queda do PIB no Brasil, no mesmo período, foi de 15,2% -o país foi um dos que sofreram maior redução na produção e no emprego, e queda de 45,3% nos investimentos! Dada essa queda, vamos amargar recessão neste ano, e, se as respostas na área monetária e creditícia continuarem tímidas como a última decisão do Copom, não demoramos a concluir que o PIB poderá ter contração, que poderá superar quatro pontos percentuais.

No agregado, pelo canal do comércio, a crise chegou ao Brasil como uma marolinha. Numa economia fechada como a nossa, a queda nas exportações e nos preços das commodities teve impacto mínimo na contração da demanda agregada porque as importações sofreram forte desaceleração. Pelo canal da destruição de riqueza, com queda nas Bolsas, prejuízos nos fundos de investimento e aplicações em derivativos tóxicos, o impacto também não foi grande. O canal da desalavancagem ficou circunscrito a poucas empresas -as que apostaram em derivativos exóticos- e a pequenos bancos.

Foi pelo canal do crédito e da incerteza que a crise chegou ao Brasil. Enquanto todos os demais BCs reagiam prontamente, expandindo fortemente o crédito doméstico e reduzindo os juros para contrabalançar a restrição no crédito externo, o nosso reagiu timidamente. Argumentou-se que o crédito externo representava pequena parcela do crédito bancário total e que o problema de liquidez estava restrito a pequenos bancos. Esqueceram do efeito multiplicador de crédito e que houve parada total no fluxo de recursos que vinha pelo mercado de capitais. As reduções no depósito compulsório tiveram pouco impacto num ambiente de incerteza aguda em que o próprio BC, pagando 13,75% ao ano para aplicações no over, criava alternativa óbvia de aplicação. E, como previsto, as medidas não conseguiram compensar o crédito externo. Assim, a contração brusca de crédito para as empresas foi brutal, gerando um quase pânico, levando-os a paralisar os investimentos, a cancelar os pedidos e a frear a produção preventivamente, já que a demanda não havia caído, como as vendas do comércio comprovam, a não ser naqueles setores diretamente afetados pelo crédito, como o automobilístico.

O erro grosseiro do BC já custou 800 mil postos de trabalho. Em mais dois ou três meses, aqueles que perderam o emprego vão reduzir a demanda, provocando queda na produção e gerando novas demissões. Infelizmente, o erro de política monetária obrigará o governo a acionar mais ativamente a política fiscal, que, aliás, não tem muito espaço.

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