Blog Noblat
Até agora não consegui compreender a cumplicidade companheira com Barak Obama. Durante toda campanha presidencial houve um genérico aceno para pindorama dentro dos treze pontos definidos na Nova Parceria para as Américas. Na verdade um enunciado feito em maio deste ano absolutamente vago e que o compromete em nada com o subcontinente. Eleito, nenhum telefonema ocorreu, apesar das constantes manifestações de queridismo do presidente Lula. Foi Lula que ligou para Obama e ele devolveu a ligação. Sequer ainda estamos inscritos na fila do beija-mão. É muita desconsideração para quem chamava o gênio do mal, George W. Bush, de meu filho.
As esquerdas estão alimentando tremendo equívoco em relação ao democrata eleito. Imaginam que ganharam uma causa quando apenas perderam por preclusão o argumento anti-americano com o fim da Era Bush. Eles que sempre se encheram de razão para situar os Estados Unidos como o câncer da América Latina, deveriam entender em Obama o imperialismo sob nova direção. No entanto, explodem de felicidade como se o presidente do império tivesse confirmado visita a projeto cultural do Olodum, agendado participação no Fórum Social Mundial e assinado moção em favor da preservação do mico-leão-dourado.
A admiração simpática das esquerdas por Barack Obama passa a nítida sensação de que eles acreditam ter contribuído com a eleição do presidente de uma ONG. Não perceberam que podem se desacreditar definitivamente. A grande mudança de Obama será o sepultamento de qualquer ideologia socialista, que deveria ter morrido com a queda do Muro de Berlim, mas foi revigorada justamente na América Latina. O pessoal não está entendendo! Obama representa a restauração da metrópole. Antes de olhar para os povos indígenas da Bolívia vai cuidar dos engravatados de cabeça baixa na fila do desemprego em Nova York.
Onde está a vantagem? Barack Obama não se comprometeu com a Rodada de Doha. Em princípio, é contra tratados de livre comércio e não deve revigorar as discussões da Alca. Como terá maioria no Congresso, a tendência é de impor uma política ainda mais protecionista. O caso do etanol vai ser uma das primeiras amostras do pragmatismo de Obama. Em vez de fazer bonito para os ecologistas canavieiros vai preferir ficar bem na fotografia com os rednecks de Nebraska e apoiar a produção local do produto a partir do milho.
No que se refere à política externa em direção aos irmãos sonegados do sul, é natural que Obama liquide todas as bases do esquerdismo. Cuba não tem mais importância alguma, só resta encontrar a porta de saída para a família de Fidel Castro e se estabelecer como democracia, do contrário está fora de questão. Com que roupa o celerado do presidente da Venezuela vai atacar Barack Obama, o beato da grande mudança? O movimento bolivariano tende a virar pó nesta nova ordem porque vai perder a palavra na ausência de Bush.
O novo presidente dos Estados Unidos já se comprometeu com a manutenção do Plano Colômbia, uma iniciativa que teve início ainda no governo Clinton, o que significa pressão total para liquidar as Farc. Deste poleiro cai muita gente de relativa importância, inclusive o assessor Marco Aurélio Garcia, cuja simpatia por Obama é uma contradição notória. É esperar para ver. Para a felicidade geral das nações, as esquerdas vão comer o pão que o Obama amassou.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)