É na campanha que a opinião pública se forma. Têm peso a influência das lideranças, a propaganda, as máquinas partidárias e governamentais, mas é o desempenho do candidato, com seus gestos, discursos e atos, que, finalmente, decide o voto. Ninguém elege um poste. Nada a estranhar nesse processo: é assim que o eleitorado decide nas democracias de massas, com partidos relativamente débeis e personalidades cujo simbolismo ou cujas características podem ou não se ajustar às expectativas momentâneas dos eleitores.
Não se pode dizer que o PT tenha saído eleitoralmente derrotado, pelo bom desempenho que teve nas grandes cidades. Mas saiu, sim, politicamente enfraquecido, pela derrota nas principais capitais, mesmo naquelas em que o presidente Lula se jogou pessoalmente na campanha.
Esse resultado pode ser interpretado de vários modos, todos plausíveis, nenhum conclusivo. Talvez por trás da rejeição ao lulo-petismo nas capitais comece a haver uma sensação ainda não muito nítida, mas presente, de que nem tudo vai tão bem no País, como proclama o presidente, seja devido aos primórdios da crise econômica, seja pela corrupção impune ou, até mesmo, pela "fadiga de material", depois de tantos anos. Nada disso, entretanto, autoriza a prever os resultados a serem alcançados em 2010, mesmo porque não há conexão direta entre eleições municipais e nacionais. De qualquer modo, as oposições podem sair mais esperançosas, pois o fantasma da avalancha petista ou do eleitor de postes se desvaneceu.
É certo que a instalação da crise econômica no mundo, sem dúvida a maior desde 1930, já está afetando a economia e o sentimento do povo e afetará mais ainda. As oposições não devem, porém, apostar no "quanto pior, melhor". Que ninguém se iluda: quanto pior, pior. Seria uma vitória oposicionista de curto fôlego, se, ao alcançar o poder, o novo presidente e seu grupo tivessem de continuar apagando incêndios em meio aos escombros deixados na economia real e nas contas públicas pela crise financeira. Não acho que devamos minimizar o que está ocorrendo nem jogar com a crise para construir o futuro eleitoral. O governo já abusou da opinião pública menosprezando a gravidade da situação. No início, mesmo nos Estados Unidos e na Europa, desconheciam-se a extensão e a profundidade da crise, até que se percebeu que ela se havia espalhado por todo o sistema financeiro. A crise de liquidez converteu-se em crise de confiança e tanto bancos centrais como tesouros nacionais foram obrigados a se coordenar e intervir para garantir não apenas a liquidez, mas a solvência do sistema. O custo que o socorro generalizado imporá ao bolso dos contribuintes está por ser avaliado. Certamente eles pagarão a conta dos desatinos cometidos nos países ricos na espiral de endividamento e consumo sem lastro, turbinada por derivativos financeiros.
Entre nós, os efeitos imediatos dessa situação foram a retração de crédito, inicialmente para as exportações, com o corte das linhas de financiamento em dólares, e a desvalorização e a volatilidade acentuadas da taxa de câmbio (o real é uma das moedas mais debilitadas pela crise, apesar das reservas de US$ 200 bilhões). Parte do problema com a taxa de câmbio se deve às posições especulativas anteriormente assumidas por empresas exportadoras que tomaram recursos em dólar, apostando que a moeda americana não sofreria maior desvalorização, e aplicaram esses recursos em reais, para aproveitar dos elevados juros domésticos. Tudo isso nas barbas do Banco Central... Com a mudança no comportamento do câmbio, houve muita procura por dólar para pagamento dos empréstimos contraídos, o que reforçou a desvalorização do real.
Dizer que essa crise não afetará a nossa economia é brincar com o fogo. Haverá, sim, retração, pela diminuição do crédito e pelo encolhimento do mercado internacional e, em menor proporção, do mercado interno. Logo, o crescimento será significativamente menor em 2009 e, provavelmente, em 2010. O governo poderá minimizar a desaceleração se, depois da letargia inicial, agir com presteza e concentrar os gastos naquilo que é essencial: a infra-estrutura e as políticas sociais.
Diante da gravidade do quadro, as oposições e o governo precisam agir responsavelmente. É dever daquelas exigir transparência nas medidas adotadas pelo governo para evitar favorecimentos indevidos a grupos e setores econômicos à custa dos impostos pagos pelo povo. Por outro lado, não deve faltar apoio ao que for necessário e urgente. Todavia, se as oposições quiserem ganhar as eleições presidenciais, terão de ampliar os horizontes de esperança, unindo-se, o quanto antes, em torno de uma chapa que, pela competência, pela seriedade de atitudes e pela trajetória política, desperte a confiança de que o País pode e deve avançar ainda mais rápido e melhor do que tem avançado nos últimos 15 anos.