Os chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20) - na verdade 22 países - emitiram comunicado com 47 recomendações que deverão orientar a tomada de decisões e a coordenação de políticas para enfrentar os problemas que vergam a economia global.
São enunciados que pedem mais lisura e supervisão aos mercados financeiros; recomendam reforma do sistema financeiro internacional; fortalecem o Fundo Monetário Internacional; e, contra a tendência das últimas semanas, comprometem os líderes globais a não adotarem medidas protecionistas nos próximos 12 meses. Mais ainda, exigem dos dirigentes vontade política e esforço extra para obter, ainda neste ano, um acordo comercial na Rodada Doha, até aqui fracassada.
Se levadas às últimas conseqüências, as recomendações servirão mais para evitar novas crises do que para remediar a atual.
Nos últimos seis meses, autoridades de todo o mundo adotaram políticas de resgate de instituições financeiras a perigo e despejaram um volume espantoso de recursos públicos para reativar o consumo. Afora os pacotes anteriores, o Tesouro americano irá gastar mais US$ 700 bilhões na recompra de títulos micados de instituições financeiras e a China aprovou há nove dias um plano de incentivo ao investimento e ao consumo de US$ 586 bilhões.
Por toda parte, bancos centrais injetam liquidez no sistema financeiro para evitar o estrangulamento do crédito. Para isso, derrubam os juros a níveis, em alguns casos, bem próximos do zero, a ponto de tirar capacidade de manobra da política monetária.
E, no entanto, a economia global segue mergulhada na paradeira. Semana passada, o Japão e a Europa se declararam oficialmente em recessão e os últimos resultados da economia americana apontam nessa direção.
Ficou a impressão de que, mais do que derrotar a esfinge que ameaça devorar a economia, os dirigentes procuraram alinhavar diretrizes consensuais para evitar frustrações grandes demais com a falta de perspectivas de uma imediata virada do jogo.
Na verdade, os chefes de Estado não estão em condições de se comprometer ainda mais, especialmente porque o país mais rico e poderoso, os Estados Unidos, enfrenta um momento de transição, à espera de que o presidente eleito assuma o comando e defina a política a ser seguida.
Quem inflou as expectativas sobre o encontro foram o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown. Para eles, tratava-se de criar um evento que relançasse as bases do capitalismo mundial. Seria a conferência de Bretton Woods 2, que relembrasse a que, em 1944, definiu a ordem econômica cujos fundamentos prevaleceram até hoje (para os mais rigorosos, até 1972). Não há obstáculo intransponível que impeça a obtenção desse objetivo. Mas nada garante que seja atingido.
O fato mais politicamente relevante foi o de que, pela primeira vez, 12 emergentes tenham sido chamados para partilhar a tomada de grandes decisões até aqui oligopolizadas pelos mais ricos. Daqui para a frente não serão mais deixados de fora, se não para decidir, pelo menos para comprometê-los com políticas lá definidas.
Sem fundo - O gráfico dá uma idéia da violência da queda de preços das commodities desde maio. O petróleo caiu 50%; a soja, 27%; o milho, 39%; o trigo, 36%. Os metais sofreram ainda mais: cobre, queda de 58%; estanho, 39%; e zinco, 48%.