A fusão ontem anunciada entre Itaú e Unibanco forma o maior conglomerado financeiro do Hemisfério Sul e o 16º do mundo em valor de mercado. E põe em movimento novo ciclo de concentração. O Bradesco, por exemplo, terá de correr atrás sabe-se lá de que instituição para ganhar fatia em ativos. O ministro Guido Mantega afirmou que agora o Banco do Brasil terá de correr para tirar a distância que o separa do novo conglomerado.
Com a exceção da Nossa Caixa, aparentemente, não há no mercado doméstico candidato à incorporação que faça diferença para outro banco grande. E isso significa o quê? Que o Bradesco vai juntar os trapos com algum banco do exterior?
Semana passada, o mesmo Mantega iniciou uma queda-de-braço com os bancos, porque estes ameaçavam aumentar os juros na ponta dos empréstimos em conseqüência da punição imposta àqueles que se prestassem a destravar o crédito. Ou seja, reagiu ao que entendeu como manobra oligopolista do setor.
Ao mesmo tempo, o governo estimula os bancos a incorporarem outros e a comprarem carteiras de crédito de instituições de caixa baixo. Entre as explicações para a Medida Provisória 443 (que autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a adquirir outros bancos) estava a de que é preciso empurrar os grandes bancos privados a adquirir aqueles com problemas de liquidez. É o governo Lula estimulando a concentração. O melhor argumento para aumentá-la é a necessidade de baixar custos e ganhar escala de operação.
O Cade, organismo de Estado encarregado de impedir movimentos que impliquem prejuízo à competição (e, portanto, imposições de condições leoninas), avisou que vai barrar a fusão se ficar comprovada perda à plena concorrência. E não estamos entrando nas discussões sobre que instituição deve exercer o xerifado da livre concorrência entre bancos, se o Cade ou se o Banco Central. A questão é mais complicada.
A pergunta mais importante consiste em saber de que concentração se trata. Se os limites geográficos dentro dos quais deve ser medida uma concentração são os dos Estados nacionais, não há dúvida de que o mercado bancário brasileiro caminha rapidamente para forte concentração.
Mas, se partirmos do princípio de que o mercado financeiro está globalizado e que não há futuro para os bancos brasileiros nem aqui nem lá fora, se não disputarem fatias crescentes do mercado internacional com os outros players, então chegamos à conclusão de que mesmo grandes bancos brasileiros terão de crescer em patrimônio e em ativos. Se não ganharem densidade, serão engolidos pelos bancões que operam globalmente, como meteoritos absorvidos por corpos celestes de maior massa.
A contradição entre o que se pretende nos mercados locais e o que se pretende no mercado global não se restringe ao setor financeiro. Vale para telefonia, bebidas, veículos, aparelhos domésticos e tanta coisa mais.
Encolheu - O saldo comercial (exportações menos importações) de outubro estreitou 56% em relação ao saldo de setembro. Embora tenha sido um mês atípico, dá para ver que a recessão está fazendo estragos no comércio.