produção italiana
Mostra em São Paulo reúne vinte filmes
marcantes e comemora os 40 anos de VEJA
Miguel Barbieri Jr.
Alpha Filmes |
ENCONTRO MARCADO Stefania Sandrelli e Vittorio Gassman em Nós que Nos Amávamos Tanto: momento inspirador na carreira do diretor Ettore Scola |
Embora produza cerca de 120 filmes anualmente (incluindo as co-produções), a Itália já teve mais destaque em telas brasileiras. Hoje, dá para contar nos dedos os longas-metragens italianos que conseguem atrair um contingente expressivo de espectadores no país – seja pelo reduzidíssimo número de lançamentos, seja por causa de um circuito exibidor dominado por títulos americanos. Há, porém, casos isolados de fitas como Estamos Bem Mesmo sem Você e Meu Irmão É Filho Único – duas das únicas quatro estréias vindas da Itália neste ano –, que conseguem encontrar boa resposta junto às platéias do, digamos, "cinema alternativo". Uma mostra em São Paulo, que tem início nesta sexta-feira, traça um panorama do cinema italiano de ontem e de hoje.
Ao contrário das três edições anteriores, que só focaram produções contemporâneas, a Semana Pirelli de Cinema Italiano exibe desta vez, além de seis filmes novos e inéditos, catorze pérolas realizadas entre 1964 e 1998 – esse núcleo, em comemoração aos 40 anos de VEJA. A produção cinematográfica italiana teve dois grandes apogeus: após a II Guerra, com o início do neo-realismo, e nas décadas de 60 e 70, com o cinema político, do qual vieram obras contundentes dirigidas por, entre outros, Giuliano Montaldo, Damiano Damiani, Gillo Pontecorvo (A Batalha de Argel) e Elio Petri (A Classe Operária Vai ao Paraíso). Montaldo marca presença na retrospectiva com o emblemático Giordano Bruno, sobre o filósofo queimado na fogueira da Inquisição em 1600. O papel principal coube ao ator Gian Maria Volontè (1933-1994), que ficou marcado como a "cara" do cinema político. Também de Montaldo será exibido O Brinquedo Proibido, de 1979. Já Damiani está por trás de Só Resta Esquecer, a terceira das quatro parcerias feitas com o então galã Franco Nero.
Contam pontos a favor dessa revisão do passado cinematográfico italiano a escolha por títulos que não atingiram a aura de cult e cineastas que não viraram, assim, uma celebridade. Fellini, Antonioni e Visconti e fitas oscarizadas como Cinema Paradiso e A Vida É Bela cederam espaço para dois grandes momentos de Ettore Scola (Nós que Nos Amávamos Tanto e Um Dia Muito Especial) e para a revisão de Mario Monicelli do movimento estudantil de 1968 em Caro Michele. Bernardo Bertolucci, que levou o Oscar em 1988 por O Último Imperador, está representado por duas obras-chave – o ainda polêmico O Último Tango em Paris (1972), que foi censurado no Brasil, e Antes da Revolução, seu segundo longa-metragem. Ver uma seleção antológica como essa na tela grande (a maioria dos títulos está inédita em DVD) é, portanto, mais do que uma oportunidade rara.
Oportunidade rara Seis longas-metragens novos e inéditos e catorze filmes De ontem De hoje |