A gigantesca operação de resgate dos bancos americanos e do próprio dólar afasta o risco de quebra em cadeia (risco sistêmico) dos bancos americanos que tanto pânico levou aos mercados. Mas deixa no ar questões importantes.
O pacote anunciado pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, e pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, vem declaradamente para sanear os balanços dos bancos de bilhões de dólares em ativos podres. É um passo importante em direção à reestruturação do sistema financeiro americano, cujos desdobramentos são difíceis de antecipar.
A decisão foi um reconhecimento de que as medidas anteriores, tomadas por Paulson e Bernanke, ou foram insuficientes ou foram equivocadas. Entre as insuficientes estão a injeção de até US$ 200 bilhões nas megaagências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac e a estatização supostamente temporária da maior seguradora do país, a AIG. E entre as medidas equivocadas pode estar a falta de socorro ao Lehman Brothers.
Ainda não está claro o formato do pacote. Uma coisa é tomar uma decisão no atacado, como foi tomada, e outra, muito diferente, é projetar seus pormenores. Algumas perguntas mostram a complexidade da iniciativa.
Uma delas: por qual preço os tais ativos bancários podres serão repassados ao novo fundo? Há meses Bernanke repete que não sabe "que diabo (what a hell) valem esses ativos". Se não soube definir um critério de preço, por que saberá agora?
Se são títulos podres e nada mais do que "lixo tóxico", supostamente têm preço de lixo. E, se esse fundo pagar apenas o preço de lixo, de um lado economizará recursos públicos, mas, de outro, obrigará os bancos a engolir prejuízos enormes, cuja perspectiva foi o combustível do fogaréu em que arderam os mercados nas duas últimas semanas. No entanto, se estiver disposto a pagar algo próximo do seu valor de face, pode não haver o que chegue.
Essa operação é um gigantesco remanejamento de prazos. No caso das hipotecas, a encrenca ocorreu porque recursos dos aplicadores, resgatáveis quase à vista, foram repassados a longo prazo. E chegou o dia em que o aplicador exigiu seu dinheiro de volta que, no entanto, estava enterrado nos imóveis cujos mutuários têm prazo de 10, 20 ou até 30 anos para pagar. A natureza da operação de resgate consiste em empurrar o investimento para o Tesouro para que só retome o dinheiro investido no prazo previsto pelos contratos.
Paulson não foi preciso quando questionado sobre o tamanho do fundo. Disse apenas que a operação exigirá "várias centenas de bilhões de dólares". As estimativas variam entre alguma coisa como US$ 500 bilhões e US$ 1,5 trilhão.
A pergunta seguinte consiste em saber de onde virão os recursos. O pressuposto é o de que o Tesouro se suprirá por meio do lançamento de títulos. Mas de onde sairão os dólares para comprá-los? E, se houver tamanho despejo de T-bonds no mercado, o que acontecerá com sua remuneração (juros de longo prazo)? E para onde vai a cotação do dólar nos câmbios globais?
São questões à espera de resposta.
O pacote anunciado pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, e pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, vem declaradamente para sanear os balanços dos bancos de bilhões de dólares em ativos podres. É um passo importante em direção à reestruturação do sistema financeiro americano, cujos desdobramentos são difíceis de antecipar.
A decisão foi um reconhecimento de que as medidas anteriores, tomadas por Paulson e Bernanke, ou foram insuficientes ou foram equivocadas. Entre as insuficientes estão a injeção de até US$ 200 bilhões nas megaagências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac e a estatização supostamente temporária da maior seguradora do país, a AIG. E entre as medidas equivocadas pode estar a falta de socorro ao Lehman Brothers.
Ainda não está claro o formato do pacote. Uma coisa é tomar uma decisão no atacado, como foi tomada, e outra, muito diferente, é projetar seus pormenores. Algumas perguntas mostram a complexidade da iniciativa.
Uma delas: por qual preço os tais ativos bancários podres serão repassados ao novo fundo? Há meses Bernanke repete que não sabe "que diabo (what a hell) valem esses ativos". Se não soube definir um critério de preço, por que saberá agora?
Se são títulos podres e nada mais do que "lixo tóxico", supostamente têm preço de lixo. E, se esse fundo pagar apenas o preço de lixo, de um lado economizará recursos públicos, mas, de outro, obrigará os bancos a engolir prejuízos enormes, cuja perspectiva foi o combustível do fogaréu em que arderam os mercados nas duas últimas semanas. No entanto, se estiver disposto a pagar algo próximo do seu valor de face, pode não haver o que chegue.
Essa operação é um gigantesco remanejamento de prazos. No caso das hipotecas, a encrenca ocorreu porque recursos dos aplicadores, resgatáveis quase à vista, foram repassados a longo prazo. E chegou o dia em que o aplicador exigiu seu dinheiro de volta que, no entanto, estava enterrado nos imóveis cujos mutuários têm prazo de 10, 20 ou até 30 anos para pagar. A natureza da operação de resgate consiste em empurrar o investimento para o Tesouro para que só retome o dinheiro investido no prazo previsto pelos contratos.
Paulson não foi preciso quando questionado sobre o tamanho do fundo. Disse apenas que a operação exigirá "várias centenas de bilhões de dólares". As estimativas variam entre alguma coisa como US$ 500 bilhões e US$ 1,5 trilhão.
A pergunta seguinte consiste em saber de onde virão os recursos. O pressuposto é o de que o Tesouro se suprirá por meio do lançamento de títulos. Mas de onde sairão os dólares para comprá-los? E, se houver tamanho despejo de T-bonds no mercado, o que acontecerá com sua remuneração (juros de longo prazo)? E para onde vai a cotação do dólar nos câmbios globais?
São questões à espera de resposta.