ARTIGO - João Mellão Neto |
O Estado de S. Paulo |
12/9/2008 |
É mais útil ter uma visão histórica de que uma visão histérica dos problemas. E o problema que mais tem afligido a opinião pública é a onda de corrupção que tomou conta da nossa política. Corrupção, acima de certo nível, é característica das nações subdesenvolvidas. Especialmente daquelas onde as instituições são fracas ou simplesmente inexistem. A corrupção não apenas é uma particularidade dos países atrasados, mas também uma das principais causas - se não a única - desse atraso. A vocação natural das nações - se nada as impede disso - é crescer e amadurecer. Se, eventualmente, isso não ocorre, deve existir uma grave anomalia que serve como obstáculo. Urge, então, identificá-la e, se possível, extirpá-la, sem complacência, até as suas mais profundas raízes. Outro aspecto que deve ficar claro é que a corrupção não é tão-somente uma doença moral. Qual câncer, cresce e se espalha até comprometer todo o organismo. Não dá para ignorá-la ou conviver com ela sem pôr em risco o corpo inteiro onde se manifesta. Uma sociedade que pretenda manter-se hígida e saudável precisa deixar de lado o comodismo e tratar de combatê-la, com destemor, desde os primeiros indícios de sua presença. A corrupção, por exemplo, em médio prazo, implode todos os principais alicerces da economia nacional. Não é difícil entender por quê. Nenhum estrangeiro se dispõe a arriscar o seu capital num país onde o mercado é distorcido por conta de licitações viciadas, privilégios injustificáveis que o governo porventura conceda a determinados setores ou empresas - que resultem na inviabilização da livre concorrência; ou onde a Justiça seja morosa, venal e até inoperante - incapaz de garantir e reparar os legítimos direitos daqueles que forem lesados ou tiverem os contratos que livremente estabeleceram descumpridos, aviltados ou vilipendiados. Também ainda está para nascer um alienígena que, tendo legalmente investido o seu dinheiro numa determinada nação, assista passivamente à invasão, depredação ou confisco dos bens ou patrimônios que porventura tenha adquirido, melhorado ou construído naquele local. (Só mesmo um governante, digamos, exótico, como o nosso atual, entregaria pacificamente parcelas valiosas do patrimônio nacional à Bolívia, como ele fez, de bom grado.) Se os estrangeiros, por acaso, desistirem de investir no Brasil, nós não disporemos de recursos próprios para suprir essa lacuna e a conseqüência, absolutamente previsível, seria a descapitalização e posterior estagnação e inviabilização de nossa economia. (Aplicar tais recursos em países mais civilizados seria uma decisão muito mais sensata e tranqüilizadora, certo?) O carcinoma da corrupção não provoca danos só na economia. A sociedade, como um todo, também sofre severamente com sua proliferação. Não há registro histórico de alguma nação que tenha progredido ou prosperado graças à gatunagem generalizada. Ao contrário, a prática disseminada da depravação e devassidão, mormente com o patrimônio público, torna-se rapidamente de conhecimento geral, o que induz incontáveis cidadãos, em especial os dotados de caráter mais frágil, a deixar de aplicar seu esforço, engenho e talento em atividades úteis à comunidade para enveredar pelos obscuros caminhos da ilegalidade. Nos jovens, então, o efeito é avassalador. Como convencer mentes ainda em estágio de formação a persistirem sempre na honestidade e na correção, se elas tomam conhecimento, cotidianamente, pela mídia, de que aqueles que logram vencer na vida são, em grande número, os que optaram por mandar às favas os seus escassos escrúpulos? O governo presente comete um grave equívoco ao relegar a questão da corrupção a segundo plano. A petecracia nos dá a entender, todos os dias, de que, no final das contas, os fins realmente justificam os meios. Meus filhos, graças a Deus, já são crescidos. Não fossem, eu jamais delegaria a formação deles a uma prestativa governanta do PT. (Nos meus tempos de jovem, era comum a contratação de preceptoras para auxiliar na educação dos rebentos.) Eles, no mínimo, se tornariam adultos inescrupulosos, para quem conceitos como dignidade e honradez não fariam o menor sentido. Deus me livre de ter filhos à imagem e semelhança de um Zé Dirceu ou de uma Dilma Rousseff! O PT inventou uma excelente forma de parar de fumar. É fumar escondido. E se, por acaso, alguém for flagrado em tabagismo explícito, a saída é negar até o fim, dizer que o charuto era de outra pessoa ou, por fim, alegar que não sabia de nada. Não estranho nada o fato de eles serem assim. Fui testemunha ocular do processo de criação do Partido dos Trabalhadores. De todos os incontáveis e irados discursos que ouvi à época (petista de coração já nasce discursando, invariavelmente, em tom indignado), não foi citada uma única vez a palavra corrupção. Um colega meu de faculdade, versado em temas marxistas, decifrou-me o enigma. Aquela gente esquisita não considerava a corrupção um tema relevante. Para eles, se algum roubo importava, era exclusivamente o praticado pelos patrões contra seus empregados, aos quais, supostamente, pagavam salários muito inferiores ao valor do que realmente produziam, enriquecendo com a apropriação do excedente. Combater essa flagrante exploração, essa, sim, era a grande causa pela qual estavam dispostos a arriscar a vida, se preciso fosse. Os anos passaram, durante a década de 90 eles, até mesmo por puro oportunismo eleitoral, adotaram o discurso moralista, mas, ao chegarem ao poder, trataram de abandoná-lo depressa. Voltaram a se focar na grande causa, pela qual tudo é justificável, até mesmo roubar. É gente assim que agora, trajando pele de cordeiro, vem suplicar o meu voto. Mas, como sabiamente afirma aquela velhinha do comercial de TV, “nem a pau, Juvenal!” |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, setembro 12, 2008
Corrupção é só conversa de burguês?
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