Um marciano que tivesse desembarcado em São Paulo na véspera e assistido ontem à aula magna do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), deveria ter ficado convencido de que a economia brasileira passa por um momento privilegiado.
É verdade que o crescimento econômico do Brasil foi insignificante nos últimos três anos e terá repeteco disso em 2014. Mas o ministro está conformado com o resultado e insiste em que, no período 2007 a 2013, outros aparecem pior na foto: Coreia do Sul, Austrália, África do Sul, Canadá, Rússia, Alemanha, França, Japão e Reino Unido. Só que ele deixa de citar que, nos últimos três anos, as promessas do governo no início de cada ano foram de avanço do PIB de 3,5% a 4,0% ao ano. Se entregou apenas uma fração disso é porque alguma coisa deu errado. Falta reconhecer e entender por quê.
Para a inflação, que namora o teto da meta e não consegue baixar do nível dos 6% ao ano, não há desculpa - como, de resto, o próprio Banco Central (BC) acaba de admitir na edição de março do seu Relatório de Inflação. Ao contrário do que fez com o PIB, Mantega não se dá ao trabalho de comparar a inflação brasileira com a do resto do mundo. Limitou-se a garantir que, "neste ano, a inflação não passará do teto da meta". Faltou dizer o que fará para que isso aconteça, à parte a alta dos juros promovida pelo BC e o represamento dos preços administrados.
O principal argumento desfilado pela Standard & Poor's para justificar o rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil a um degrau do nível especulativo foi o mau desempenho do governo na administração das contas públicas (política fiscal). Mas Mantega opta por ignorar essas razões. Prefere proclamar a solidez dos fundamentos da economia com "15 anos de esforço fiscal", inclusive os últimos quatro de "política anticíclica", que, por conta dessa natureza, produziu uma sobra menor de arrecadação do que nos anos anteriores.
O ministro reconhece que a hora não permite, como antes, que se dê prioridade ao consumo. Por isso, aí vai uma guinada decisiva que garantirá um crescimento anual de 7% no investimento para que este salte dos atuais 18,4% do PIB para 24% do PIB, em 2023 (veja o gráfico).
O ministro usou seu esquadro e traçou uma linha reta em direção a esses 24% sem, no entanto, explicar como crescerá o investimento sem que antes ou simultaneamente também cresça a poupança nacional, que há anos não sai dos 17% do PIB e que, no ano passado, ficou em apenas em 13,9% do PIB.
Esta não é a percepção de quem está fora do governo - e não precisa ser nem da oposição, nem jornalista crica, nem do staff das agências de classificação de risco. Até aliados do governo, como o professor Delfim Netto, entendem que a confiança está abalada, que o desempenho da economia ficou aquém do potencial, que é preciso elevar o superávit primário e que a política de represamento dos preços dos combustíveis, da energia elétrica e dos transportes urbanos produz mais distorções (e mesmo inflação) do que os benefícios pretendidos.
Vai que o ministro está certo e que marcianos são todos os demais.
É verdade que o crescimento econômico do Brasil foi insignificante nos últimos três anos e terá repeteco disso em 2014. Mas o ministro está conformado com o resultado e insiste em que, no período 2007 a 2013, outros aparecem pior na foto: Coreia do Sul, Austrália, África do Sul, Canadá, Rússia, Alemanha, França, Japão e Reino Unido. Só que ele deixa de citar que, nos últimos três anos, as promessas do governo no início de cada ano foram de avanço do PIB de 3,5% a 4,0% ao ano. Se entregou apenas uma fração disso é porque alguma coisa deu errado. Falta reconhecer e entender por quê.
Para a inflação, que namora o teto da meta e não consegue baixar do nível dos 6% ao ano, não há desculpa - como, de resto, o próprio Banco Central (BC) acaba de admitir na edição de março do seu Relatório de Inflação. Ao contrário do que fez com o PIB, Mantega não se dá ao trabalho de comparar a inflação brasileira com a do resto do mundo. Limitou-se a garantir que, "neste ano, a inflação não passará do teto da meta". Faltou dizer o que fará para que isso aconteça, à parte a alta dos juros promovida pelo BC e o represamento dos preços administrados.
O principal argumento desfilado pela Standard & Poor's para justificar o rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil a um degrau do nível especulativo foi o mau desempenho do governo na administração das contas públicas (política fiscal). Mas Mantega opta por ignorar essas razões. Prefere proclamar a solidez dos fundamentos da economia com "15 anos de esforço fiscal", inclusive os últimos quatro de "política anticíclica", que, por conta dessa natureza, produziu uma sobra menor de arrecadação do que nos anos anteriores.
O ministro reconhece que a hora não permite, como antes, que se dê prioridade ao consumo. Por isso, aí vai uma guinada decisiva que garantirá um crescimento anual de 7% no investimento para que este salte dos atuais 18,4% do PIB para 24% do PIB, em 2023 (veja o gráfico).
O ministro usou seu esquadro e traçou uma linha reta em direção a esses 24% sem, no entanto, explicar como crescerá o investimento sem que antes ou simultaneamente também cresça a poupança nacional, que há anos não sai dos 17% do PIB e que, no ano passado, ficou em apenas em 13,9% do PIB.
Esta não é a percepção de quem está fora do governo - e não precisa ser nem da oposição, nem jornalista crica, nem do staff das agências de classificação de risco. Até aliados do governo, como o professor Delfim Netto, entendem que a confiança está abalada, que o desempenho da economia ficou aquém do potencial, que é preciso elevar o superávit primário e que a política de represamento dos preços dos combustíveis, da energia elétrica e dos transportes urbanos produz mais distorções (e mesmo inflação) do que os benefícios pretendidos.
Vai que o ministro está certo e que marcianos são todos os demais.