Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 19, 2014

Petrobras só sobrevive se visão empresarial prevalecer - EDITORIAL O Globo

Petrobras só sobrevive se visão empresarial prevalecer - Jornal O Globo


A Petrobras é uma empresa gigante, e como tal tem forte impacto econômico, social e ambiental nas áreas e regiões em que atua. É uma companhia que já nasceu como instrumento de intervenção do Estado na economia, pois sua primeira atribuição foi a de exercer o monopólio instituído no país, no ano de 1953, em todos os segmentos relacionados ao petróleo e ao gás, exceto a distribuição. Embora tenha sido formada como uma sociedade anônima de "economia mista", com participação de sócios minoritários e ações negociadas em bolsas de valores, as chamadas funções de Estado quase sempre se sobrepuseram às de empresa na história da companhia.
Mas esse cenário sofreu uma considerável transformação a partir dos anos 1990. A Petrobras deixou de uma empresa monopolista com amparo da lei. Na mesma época, o mercado de capitais ganhou considerável impulso, e a base de acionistas das empresas abertas se ampliou, inclusive o da Petrobras.
O fim do monopólio, como, aliás, era previsto, libertou a Petrobras de muitas dessas amarras e aumentou as descobertas de áreas produtoras. A empresa se consolidou como um dos principais motores da economia. No entanto, diante de objetivos tão ambiciosos, o governo Lula resolveu ressuscitar o antigo modelo que considerava a companhia mais um instrumento de intervenção do Estado do que uma empresa aberta, com responsabilidades sociais, mas também com obrigações junto aos acionistas.Tal modelo é incompatível com o desafio que a Petrobras tem pela frente. Para atingir os objetivos traçados em seus plano de negócios, a companhia terá de ser mais lucrativa, reduzindo endividamento e reinvestindo calcada em seus próprios resultados.
Felizmente, a presidente da companhia, Graça Foster, tem dado mostras que busca esse caminho. Em claro recado aos que esperam se abrigar sob o guarda-chuva das políticas traçadas pelo governo, a pretexto de "desenvolver a indústria brasileira", Graça afirmou em encontro do setor de construção naval que a Petrobras está voltada agora para o aumento da produção, e que a exigência de conteúdo local nas encomendas não pode ser obstáculo para alcance desse objetivo.
Já há percentuais mínimos de conteúdo local nos contratos de concessão de blocos de petróleo. É interesse estratégico da empresa desenvolver uma cadeia de fornecedores no país. Mas isso tem de de ser feito com critérios empresariais, e não político-partidário. O conteúdo local a qualquer preço não pode ser a prioridade da Petrobras. Trata-se de uma volta à de substituição de importações a qualquer preço, no estilo geiselista — e que fracassou. Espera-se que a mesma visão crítica de Foster abranja o anacrônico monopólio criado por estatistas para a empresa ser hegemônica na operação nos campos do pré-sal, e os 30% cativos nos consórcios na área. Por um motivo concreto: a estatal não tem condições financeiras de fazer tudo e ainda subsidiar os combustíveis.

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