O grande sucesso popular dos musicais brasileiros que estão lotando os teatros, além de emoções e aplausos, provoca novas questões, velhas bobagens e algumas polêmicas interessantes. A base para discussão é sempre o clássico musical da Broadway ou, para os mais metidos, as montagens do West End de Londres. Para um crítico paulista, os espetáculos sobre Tim Maia, Cazuza, Renato Russo, Luiz Gonzaga e Elis Regina sequer podem ser chamados de musicais.
Seriam, no máximo, revistas, colagens, shows com esquetes e, no mínimo, pilantragens para enganar os tolos que querem ver seus ídolos ressuscitados no palco. Como diriam na Broadway, "Who cares?", ou no Harlem, "Who gives a fuckin' shit?" Os teatros estão abarrotados, os aplausos são ensurdecedores e os elencos ganham todos os prêmios. Quem sabe estão inventando aqui um novo formato de espetáculo musical, em que se misturam teatro, show, revista e tecnologia, para mostrar às novas gerações as vidas e obras de artistas de imensa importância na nossa cultura?Há 20 anos, Paulo Francis me disse que tinha visto em Londres um musical muito interessante em que a história era narrada através de canções já conhecidas. Achou o espetáculo ruim, mas a ideia, boa, e me sugeriu escrever um musical brasileiro com essa estrutura. Vinte anos depois, a ideia era perfeita para um espetáculo justamente sobre a vida de um artista, as músicas já estavam prontas e consagradas pelo público, e escrevi "Vale tudo — Tim Maia, o musical", que está em cartaz há quase três anos. Valeu, Francis.
Ruy Castro argumenta que um musical de verdade tem que ser original de letra e música, e esses espetáculos com canções já conhecidas não deixam espaço para novos musicais que poderiam ser escritos pelos nossos talentosíssimos compositores e letristas. Com a "Ópera do malandro", Chico Buarque lhe dá razão, mas, de lá pra cá, o que foi produzido de original e relevante, cá ou lá?
Na Broadway, as montagens são cada vez mais espetaculares, mas nenhum musical em cartaz tem canções tão boas como as desses brasileiros. Só, talvez, o biográfico "Janis Joplin".