O governo Dilma não esconde sua perplexidade com o pouco conhecimento de que dispõe sobre o setor que mais cresce e mais emprega na economia, o de serviços.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, o IBGE, encarregado das Contas Nacionais, não calcula corretamente nem o tamanho do setor nem sua evolução. Para ele, os dados do PIB são subdimensionados.
Na entrevista publicada domingo no Estadão, Marcio Porchmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, reconhece que é pobre o conhecimento que o governo tem do setor de serviços, responsável por 70% do emprego e por 69% do PIB do Brasil. (A Fundação Perseu Abramo é a entidade do PT que se dedica a análises e propostas de políticas públicas.)
Não só o PT e o governo Dilma têm uma visão distorcida do setor. Em geral, os economistas do Brasil o avaliam mal e mostram-se incapazes de considerar esse desconhecimento nas formulações de política econômica. O fenômeno é suprapartidário e extravasa o governo.
Quando o assunto é emprego, a primeira preocupação do governo é com a indústria. Se o assunto é a baixa competitividade do setor produtivo, só pensa na indústria; avanço econômico insuficiente também é com a indústria; incorporação de tecnologia e agregação de valor, outra vez, a indústria. E, se algo não vai bem com as montadoras, é porque a política industrial não foi eficaz e tal.
Em outras palavras, nossos formuladores de política econômica se comportam como se o objetivo estratégico da economia ainda fosse batalhar para substituir importações de manufaturados.
Desconhecem o fato de que a maior agregação de valores e preços é produzida pela mineração e pelo agronegócio. Um punhado de cassiterita enterrado no chão corresponde a uma fração do valor do produto já minerado. Uma saca de sementes selecionadas de milho produz algumas toneladas do produto.
Hoje, pode haver mais tecnologia de ponta numa porção de soja do que em uma tonelada de aço. O mesmo pode-se dizer de subsetores dos serviços, como a informática, a logística, a atividade bancária, os serviços de comunicação que demandam satélites, criptologia avançada e tanta coisa mais. Até mesmo táxis comuns trabalham com GPS e aplicativos de celular que aumentam sua produtividade e economizam gasolina.
Outro mito que permeia as decisões de política econômica é o de que os melhores empregos são gerados pela indústria. Ainda há excelentes empregos no setor industrial. Mas, o pouco-caso com que se trata o setor que mais emprega e que mais cria empregos no Brasil é tanto o resultado de visões de distorcidas como, também, produtor de novas distorções. O governo está sempre pronto, por exemplo, a dar benefícios fiscais e creditícios à indústria, a título de defesa do emprego, mas esquece do setor de serviços.
E quando se trata de produtividade, não só o governo ignora os avanços nos serviços propiciados pela Tecnologia da Informação, mas pouco sabe sobre como multiplicar tais efeitos em benefício do emprego e do progresso econômico.