FOLHA DE SP - 26/03
Rebaixamento da nota de crédito do país não é um desastre, mas serve como novo alerta para o governo corrigir equívocos
Compre no boato e venda
no fato (ou vice-versa). A velha máxima do mercado financeiro foi
confirmada ontem com a reação dos investidores à redução da nota de
crédito brasileira pela companhia americana Standard & Poor"s
(S&P).
Ao contrário do que sugeriria o senso comum, a Bolsa de Valores subiu e o real se valorizou --sinal de que o rebaixamento não provocou o abalo que muitos esperavam.
O comportamento dos preços das ações e da taxa de câmbio, contudo, não denota um horizonte tranquilo. Indica, isto sim, que a maioria já contava com a mudança negativa de patamar.
Verdade que tais agências não andam com o prestígio nas alturas. Os mercados, além disso, sempre são volúveis na busca por novidades. Mas essas observações não tornam menos relevante o exame das circunstâncias que levaram a nota do Brasil ao nível "BBB-", apenas um degrau acima da chamada categoria especulativa (a que apresenta maior risco de calote).
Há, de fato, motivos para preocupação. As razões citadas pela S&P são velhas conhecidas dos analistas: a perda de credibilidade da gestão do Orçamento, a perspectiva de o crescimento econômico permanecer pífio e o enfraquecimento das contas externas.
Nos últimos anos, o governo maquiou as contas públicas e usou mal a margem de manobra que tinha no Orçamento com desonerações e subsídios para estimular o consumo, quando o problema era a dificuldade de ampliar a oferta de bens e serviços. Fatores cruciais como a baixa produtividade e os custos em alta não receberam a atenção que mereciam.
Tais aspectos, somados à perda de confiança do empresariado no ambiente econômico, contribuem para os investimentos permanecerem em torno de 18% do PIB, sendo esse um dos principais limitadores à aceleração do crescimento.
Torna-se estreito, nesse contexto, o espaço para o governo agir. A S&P destaca que é difícil cumprir a meta deste ano para o superavit primário (o saldo de receitas e despesas antes do pagamento de juros da dívida), de 1,9% do PIB.
Tampouco será fácil fazer os ajustes necessários para restaurar o dinamismo da economia, algo que ficará, de todo modo, para depois das eleições presidenciais.
Não se trata de um desastre, decerto. A própria agência cita as sólidas instituições nacionais e o apoio amplo a políticas que conduzam à estabilidade econômica. Trata-se, ainda assim, de um alerta --não é o primeiro nem será o último.
Em vez de tentar refutar constatações dessa natureza, o governo faria melhor se reconhecesse que não tem sido bem-sucedido em suas tentativas de manter a confiança do setor privado. É o primeiro passo para corrigir seu rumo.
Ao contrário do que sugeriria o senso comum, a Bolsa de Valores subiu e o real se valorizou --sinal de que o rebaixamento não provocou o abalo que muitos esperavam.
O comportamento dos preços das ações e da taxa de câmbio, contudo, não denota um horizonte tranquilo. Indica, isto sim, que a maioria já contava com a mudança negativa de patamar.
Verdade que tais agências não andam com o prestígio nas alturas. Os mercados, além disso, sempre são volúveis na busca por novidades. Mas essas observações não tornam menos relevante o exame das circunstâncias que levaram a nota do Brasil ao nível "BBB-", apenas um degrau acima da chamada categoria especulativa (a que apresenta maior risco de calote).
Há, de fato, motivos para preocupação. As razões citadas pela S&P são velhas conhecidas dos analistas: a perda de credibilidade da gestão do Orçamento, a perspectiva de o crescimento econômico permanecer pífio e o enfraquecimento das contas externas.
Nos últimos anos, o governo maquiou as contas públicas e usou mal a margem de manobra que tinha no Orçamento com desonerações e subsídios para estimular o consumo, quando o problema era a dificuldade de ampliar a oferta de bens e serviços. Fatores cruciais como a baixa produtividade e os custos em alta não receberam a atenção que mereciam.
Tais aspectos, somados à perda de confiança do empresariado no ambiente econômico, contribuem para os investimentos permanecerem em torno de 18% do PIB, sendo esse um dos principais limitadores à aceleração do crescimento.
Torna-se estreito, nesse contexto, o espaço para o governo agir. A S&P destaca que é difícil cumprir a meta deste ano para o superavit primário (o saldo de receitas e despesas antes do pagamento de juros da dívida), de 1,9% do PIB.
Tampouco será fácil fazer os ajustes necessários para restaurar o dinamismo da economia, algo que ficará, de todo modo, para depois das eleições presidenciais.
Não se trata de um desastre, decerto. A própria agência cita as sólidas instituições nacionais e o apoio amplo a políticas que conduzam à estabilidade econômica. Trata-se, ainda assim, de um alerta --não é o primeiro nem será o último.
Em vez de tentar refutar constatações dessa natureza, o governo faria melhor se reconhecesse que não tem sido bem-sucedido em suas tentativas de manter a confiança do setor privado. É o primeiro passo para corrigir seu rumo.