A primeira expectativa em relação à CPI da Petrobras é que ela venha a ser de fato instalada. Posta a funcionar, que não seja travada por arreglos entre partidos que patrocinaram diretores da empresa. Se trabalhar sem tais óbices, espera-se que os congressistas não a desviem de seu propósito, entregando-se à fabricação de escândalos.
Vencidos tantos desafios formais, há ainda a amplitude dos temas que constam do requerimento de instalação. Os parlamentares devem investigar a compra de uma refinaria nos EUA, a suspeita de corrupção de funcionários por empresa holandesa, a insegurança nas plataformas marítimas e o superfaturamento na construção de instalações no Brasil.
Não é pouca coisa, sobretudo para um instituto que o próprio Congresso tratou de desmoralizar. Imaginar a sério que a CPI possa trazer respostas é um testemunho de boa-fé. As perguntas, entretanto, são das mais relevantes.
A princípio, o que deve chamar mais atenção é a história de Pasadena. O assunto presta-se a exame mais profundo do que as conversas corriqueiras sobre o negócio; não se trata apenas de auditoria.
Decerto há que se reavaliar o preço de compra da refinaria, embora a desproporção entre a quantia paga pela Petrobras em 2006 e o valor do negócio em 2005 seja menor do que a alardeada.
Muito mais extravagantes parecem as facilidades concedidas à empresa belga Astra para deixar a sociedade, ademais em condições draconianas para a Petrobras, obrigada a arcar com um sobrepreço considerável.
Como foi possível que tais cláusulas atravessassem despercebidas a análise das instâncias técnicas, jurídicas e financeiras da estatal?
Foi por incompetência, negligência ou cumplicidade que tal negócio desvantajoso ficou esquecido por quase seis anos depois de ter indignado a então presidente do conselho da empresa, ora presidente da República, Dilma Rousseff? O que a politização da Petrobras teria a ver com tal descalabro?
Esse aspecto –a politização além da conta– deve ficar evidente na investigação da refinaria de Pernambuco, fruto de acordo fracassado entre os governos brasileiro e venezuelano. A Petrobras banca sozinha o custo exorbitante desse empreendimento.
Mais relevante que a fracassada diplomacia petroleira é o sacrifício da boa técnica e da boa finança em nome de objetivos políticos menores, ou de política econômica equivocada.
A politização vulgar vai da partidarização mesquinha das nomeações na empresa a sua sujeição a acordos regionais ou internacionais, a lobbies empresariais e à tarefa de remendar a má gestão da economia –como no populismo com o preço dos combustíveis.
Além da possível corrupção, o tema principal da CPI deve ser o profundo descaso com os fundamentos do negócio, que causa prejuízo imenso ao país e que não foi de responsabilidade final de meros diretores da empresa.