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quarta-feira, julho 04, 2012

Lixo amontoado - EDITORAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 04/07


CPI do Cachoeira deveria usar indícios contra prefeito petista no TO para mostrar algum ânimo de investigar, que parece estar em férias

Não fosse pelo surgimento de uma conexão petista em Palmas (TO), a situação do caso Cachoeira estaria bem caracterizada pela cena absurda de um senador-Demóstenes Torres (ex-DEM), pivô do escândalo- a apresentar defesa veemente contra sua provável cassação diante do plenário vazio.

Veemência e ociosidade tampouco têm faltado na CPI mista criada no Congresso para investigar as relações do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos (alcunhado Carlinhos Cachoeira) e da construtora Delta com uma chusma suprapartidária de políticos.

A diferença está em que, nesse outro plenário, não faltam senadores e deputados. O que lhe falta é empenho e consequência na investigação. Muito se fala e esbraveja, ali, mas pouco se apura e revela.

Houve quem saísse da sala sob aplausos, como o governador Agnelo Queiroz (PT-DF), cuja administração não teve ainda inteiramente esclarecidas tratativas com a Delta e alegações de influência de Cachoeira. Outro governador colhido no turbilhão de pagamentos sob exame, Marconi Perillo (PSDB-GO), enfrenta escrutínio mais perseverante do relator Odair Cunha (PT-MG), mas todo o barulho se dá por conta de uma enrolada compra e venda de casa.

Diante de tanta inatividade, que tende a aumentar com as férias escolares de julho e a aproximação das campanhas eleitorais, o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), não parece ter muito a temer.

Vídeos de conversas suas -sobre lixo, tema mais que metaforicamente apropriado- com Cachoeira em 2004, revelados pelo programa de TV "Fantástico", soam bem comprometedores. Mas nada que uma versão fantasiosa não possa abafar sob toneladas de cinismo parlamentar.

Raul Filho reconhece o apoio de Cachoeira à sua campanha eleitoral vitoriosa de 2004. Nega, porém, que haja relação entre a ajuda e a obtenção, pela onipresente Delta, de pelo menos um contrato milionário, no seu primeiro mandato, para coleta de lixo -que mais?

Não é a primeira vez nem será a última que uma administração municipal -petista ou não- mistura falcatruas com detritos. Tampouco é por acaso que empreiteiras oportunistas criaram subsidiárias especializadas em recolher lixo urbano e distribuir propinas.

Convocar Raul Filho para depor é uma das tantas obrigações que a CPI do Cachoeira teria de cumprir para não atulhar a vala cheia das comissões que não dão em nada.

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