O GLOBO - 29/07
Está chegando às bancas a edição de agosto da Revista de História, da Biblioteca Nacional. Nele desfaz-se um mistério: o que havia nas 22 páginas do "Dossiê - O Golpe de 1964" que foram retiradas da edição de abril, por decisão comunicada em nome do Conselho Editorial da revista, depois de elas estarem prontas, editadas e diagramadas? Resposta: Nada além de um trabalho competente de jornalistas e professores.
O "Dossiê", organizado por Bruno Garcia e Nashla Dahás, foi publicado por decisão de todos os profissionais da redação (cinco jornalistas e 12 pesquisadores). Aparece com três meses de atraso, mas tira da revista a macumba de ter engavetado a História.
Há no "Dossiê" cinco artigos, dos professores Daniel Aarão Reis (UFF), João Roberto Martins Filho (UFSCar), Jorge Ferreira (UFF), Luis Antonio Dias (PUC-SP), e Mateus Henrique de Faria Pereira (UFMG). São textos de historiadores, só isso. Não revelam onde estão desaparecidos da ditadura, nem quem deu a ordem para matar todos os militantes do PC do B que estavam no Araguaia a partir de outubro de 1973.
Ainda há gente que se inquieta com 1964. É compreensível. Aarão Reis ensina em seu artigo que "é inútil esconder a participação de amplos segmentos da população no movimento que levou à instalação da ditadura em 1964. É como tapar o sol com a peneira".
Resta a pergunta das razões que levaram conselheiros a se associar, ou verem-se associados, ao engavetamento. Eram oito historiadores, sete dos quais professores de universidades. O Conselho estava envolvido num conflito com a entidade que edita a revista, a Sociedade Amigos da Biblioteca Nacional. Em meados de junho ele demitiu-se. O conflito nada teve a ver com o conteúdo da publicação. Em abril a revista circularia com artigos que relembrariam um fato histórico ocorrido há 48 anos. Saiu com um levantamento sobre mercenários. Em maio, mês da Abolição, a capa foi para a princesa Isabel.
A redação deu final adequado a uma história que deixaria mal uma revista chamada História.
À época do engavetamento do "Dossiê" era a seguinte a composição do conselho editorial: Alberto da Costa e Silva, (presidente), José Murilo de Carvalho (UFRJ), Lília Moritz Schwarcz, (USP), João José Reis (UFBA), Laura de Melo e Souza (USP), Caio César Boschi (PUC-BH), Ricardo Benzaquen (PUC- RJ), Ronaldo Vainfas (UFF), Marieta Moraes Ferreira (CPDOC-FGV) e Luciano Figueiredo (UFF).
José Dirceu
Na quarta-feira, a decisão de José Dirceu era de não ocupar a tribuna do Supremo para se defender. A tarefa ficaria com seu advogado.
''O Conde Ciano''
Para quem gosta de histórias da Segunda Guerra, do fascismo ou de espertalhões, saiu um bom livro. É "O Conde Ciano - Sombra de Mussolini", do jornalista americano Ray Moseley.
Galeazzo Ciano era um nobre italiano, boa-pinta e vigarista. Casou-se com a filha do ditador Benito Mussolini e tornou-se ministro das Relações Exteriores aos 33 anos.
Em 1943 traiu e ajudou a depor o sogro. Foi capturado pelos fascistas, julgado e condenado à morte, junto com quatro outros hierarcas. Na hora de ser passado nas armas escreveu a melhor página de sua biografia (e do livro). Primeiro arrumou a disposição dos colegas de viagem de acordo com o cerimonial da precedência, como se acomodasse convidados para um jantar. Recusou a venda e, sentado de costas para o pelotão de fuzilamento, na hora certa virou-se e encarou-o.
A tradução é do general Gleuber Vieira, comandante do Exército durante o tucanato.
O Planalto incentiva mais uma greve
Desde 18 de junho, há auditores da Receita Federal namorando uma greve. Por enquanto, fazem operações-padrão e reduzem o lançamento de cobranças. O sindicato da categoria não gosta da ideia e o movimento não empolgou os servidores.
Na quarta-feira, os sábios do Planalto ameaçaram substituir eventuais grevistas com funcionários das Fazendas estaduais. A ideia não tem base legal sólida e serve apenas para acirrar os ânimos. Em 2002, uma hierarca insultou os auditores dizendo que não precisavam de melhorias porque entre eles havia muitos corruptos. Deu fôlego à greve.
Num caso desses, a Receita, silenciosamente, mexe nos canais e reprograma o índice de fiscalização, sem anúncios marqueteiros que apenas estimulam contrabandistas e larápios.
A ideia de terceirizar grevistas deu certo nos Estados Unidos em 1981, quando pararam os controladores de voo. O presidente Ronald Reagan convocou militares e interessados nos postos, desempregou 11 mil, quebrou o movimento e destruiu o sindicato. Dilma Rousseff não é Ronald Reagan.
Nota ruim
Os reitores das universidades federais estão com nota baixa. Em 2005, eles fizeram um pacto com o governo. Receberiam investimentos (R$ 9 bilhões entre 2008 e 2012) e modernizariam as escolas. Nas contrapartidas estava a redução da relação professor/alunos. Havia nove estudantes para cada professor e a relação subiria para 15, até 2012. (Na Alemanha, ela é de 34 x 1; nos Estados Unidos, 25 x 1; e na França, 24 x 1.) Melhorou, mas está em 12 alunos para cada mestre.
Tunga
O comissariado promete um reordenamento tributário. Poderia dar atenção a um capítulo irracional e retrógrado da barafunda de tungas que impõem aos contribuintes.
Um cidadão quer ver um filme que ainda não chegou ao Brasil e resolve importar um DVD pela Amazon. Ele custa US$ 24, mais US$ 17 pelo frete da caixinha. Em cima do total de US$ 42 a empresa cobra, adiantado, US$ 40 de impostos brasileiros.
O pobre diabo toma uma tunga equivalente ao valor da compra.
O problema é que outro cidadão pode comprar por R$ 400 um aparelho Apple TV, ou trazê-lo na mala, comprado nos Estados Unidos por US$ 99. Com essa máquina aluga o filme no iTunes e paga US$ 5. Se quisesse comprá-lo, baixaria a peça por US$ 20, a quarta parte do que pagou a primeira vítima.
Filme para o STF
Um curioso sugere que os ministros do Supremo aproveitem as vésperas do julgamento do mensalão para ver o filme "Dois São Culpados" ("La Glaive et la Balance"), do francês André Cayatte. É de 1963, difícil de achar.
Dois sujeitos sequestraram um menino e, perseguidos pela Polícia, esconderam-se num farol. Quando o prédio foi invadido o menino estava morto e havia nele três pessoas. Durante o julgamento, os advogados dos três sustentaram que seu cliente estava lá quando chegaram os criminosos.
Foram convincentes e todos os réus foram absolvidos. Terminado o julgamento entraram num camburão. A choldra queimou o carro onde estavam os réus.
Assaram os culpados e o inocente.
Lula
O comissariado petista diz que Lula vai bem, em relação a seja lá o que for. Apesar disso, reconhece que com a chegada de agosto, as coisas não evoluíram como se previa.
Em outubro passado, quando o câncer de Lula foi diagnosticado, a doutora Dilma previu que no Carnaval ele desfilaria com a Gaviões da Fiel. Em abril Lula achava que em duas semanas estaria nas campanhas de Fernando Haddad e Luiz Marinho.