Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, julho 20, 2012
Nunca fomos tão felizes - FERNANDO GABEIRA
O ESTADÃO - 20/07
Uma nação não deve ser medida pelo PIB, e sim pelo que faz por suas crianças e adolescentes. A frase de Dilma Rousseff não é de todo uma fuga da realidade, como querem alguns críticos. Na Rio+20 o PIB foi muito criticado como indicador. Surgiram até pessoas fascinadas pela experiência do Butão, pequeno país encravado no Himalaia que trocou o PIB pelo Índice de Felicidade Nacional.
Quando um líder político fala, não analisamos apenas o conteúdo do discurso, mas também a oportunidade. Dilma afirmou que o PIB não é adequado para medir a nação num dia em que as expectativas de um baixo crescimento do Brasil foram divulgadas. Tanto no exterior como internamente, as críticas seriam inevitáveis. Ela procurou se antecipar a elas.
A fábula da raposa e as uvas é um dos textos de maior sucesso no governo. Quando o PIB cresce, é trombeteado como prova "de que nunca antes nesse país", etc. Quando cai, perde importância porque o essencial é cuidar das criancinhas, que num passado não muito distante éramos acusados de comê-las.
Embora tenha apenas a agenda de Dilma como referência, não creio que ela tenha dialogado com o rei Wangchuck, do Butão. Mas tanto quanto ele, num momento de desconforto com o PIB ela está buscando novos indicadores. O Butão, segundo alguns estudiosos da felicidade, como Derek Bok, formulou com critérios interessantes a nova maneira de avaliar o país.
Dilma falou das crianças dependentes de uma boa educação como passaporte para o futuro. Mas os índices internacionais nos colocam em 53.º lugar em leitura e 57.º em matemática, numa lista de 65 países.
Existe um ponto em que a teoria do Butão daria um socorro a Dilma. Segundo ela, o primeiro fundamento da felicidade é o desenvolvimento equilibrado. E o programa Bolsa-Família é um marco internacional na distribuição de renda aos mais pobres.
A ideia de equilíbrio implica uma noção de conjunto. Numa das pontas, o financiamento do BNDES a empresários, conhecido como a bolsa dos ricos, ainda é uma incógnita à espera de um estudo sobre sua adequação às necessidades nacionais. Isso não é feito porque o BNDES se recusa a fornecer detalhes e o pedido da imprensa investigativa para ter acesso a eles foi parar na Justiça. Na semana passada, o BNDES apareceu financiando o Fusca do século 21, o UP da Volkswagen, com R$ 352 milhões. Talvez seja uma homenagem a Itamar Franco, que tinha o sonho nostálgico de ressuscitar o Fusca.
Fui muito criticado pelos adeptos do governo quando alinhei alguns pontos preocupantes na conjuntura. Governos não gostam de vê-los alinhados, preferem uma visão cor-de-rosa. No passado era o "ame-o ou deixe-o", consagrado pela ditadura militar, que fantasiava um País onde todos os críticos se exilam.
De modo geral, previsões otimistas sobre o Brasil continuam a surgir. Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista recente, que o País está no rumo certo. Ee le é de oposição. A OCDE lançou um relatório afirmando que o Brasil tem as melhores perspectivas estratégicas de crescimento entre os países emergentes. E um dos pensadores mais aclamados do momento, Parag Khanna, também acentuou as grandes possibilidades do País na economia do futuro, a economia híbrida fortemente marcada pela conectividade. Estrategicamente, estamos bem na foto. Mas o futuro não pode ser visto como um o reino dos céus, um marco religioso. No universo místico, derrotas e sofrimentos terrenos não importam porque eles nos levam à salvação. No mundo real, um conjunto de erros pode nos afastar das promessas estratégicas. Daí a necessidade do debate, das críticas.
Que papel podemos esperar no futuro, se o Brasil aparece em 58.º lugar no ranking de invenção da Organização Mundial de Propriedade Industrial, bem atrás do Chile, o 36.º? Caímos nove posições. O atraso brasileiro não se deve só ao governo. Mas uma política científica e tecnológica ajudaria muito. E deveria ter sido inaugurada em 2003, no primeiro governo Lula. O PIB está lá embaixo, fatores que nos trariam esperança para o futuro, ensino e invenção, têm desempenho desanimador no ranking internacional.
Alguns adeptos do governo querem nos convencer de que nunca fomos tão felizes, como quiseram também os militares, em outras circunstâncias. Para ganhar seu dinheirinho, atacam os críticos e nos chamam de urubus. No meu caso, deviam ter o salário descontado. Urubu é o símbolo de parte da torcida do Flamengo. Além disso, tive a sorte de ouvir Tom Jobim falar de pássaros e ele sempre destacava a elegância do voo do urubu.
O Brasil está cheio de gente otimista que nos envia beijos no coração e toda essa ternura de candidato em campanha. Precisamos de alimento para pensar. O futuro luminoso não é uma fatalidade à prova de um medíocre oba-oba. Ele pode chegar tarde ou desaparecer no horizonte. O que mais incomoda é associar os impasses econômicos à decadência política. A Ferrovia Norte-Sul virou mais uma piada, a última do Juquinha, ex-presidente da Valec, que teve os bens bloqueados. Ele ganhava em torno de R$ 20 mil e tinha vários imóveis, até uma fazenda de R$ 20 milhões.
De fora chegam sinais animadoras: Paulo Maluf perdeu os recursos na Justiça de Jersey e a São Paulo pode reaver US$ 22 milhões desviados de suas obras públicas. Na Suíça, Joseph Blatter pede a João Havelange que deixe a presidência de honra da Fifa depois do escândalo da propina. Os torcedores do Rio querem mudar o nome do Estádio João Havelange para João Saldanha.
Dizem os economistas que na maré alta todos se movem com facilidade, mas quando ela baixa descobrimos quem tomava banho nu. Agora que a maré baixou, diante da nudez de pouco adianta o argumento da beleza interior. É preciso coragem e boas ideias para um mundo em transição. Anos de poder amolecem e deformam quem se aproveita dele. Onde está a energia para um novo tempo?
Para responder à greve dos professores universitários o governo levou 36 dias. E se esqueceu do recesso parlamentar para aprovar incentivos à indústria, quase estagnada. Sorte dele é o profundo sono da oposição.
Arquivo do blog
-
▼
2012
(2586)
-
▼
julho
(301)
- Pressões - MERVAL PEREIRA
- Muito mais que descortês - MIRIAM LEITÃO
- Sombras sobre o Estado - EDITORIAL FOLHA DE SP
- O último empurrão - JOSÉ PAULO KUPFER
- A bronca errada de Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO
- O que Chávez esconde - EDITORIAL O ESTADÃO
- A musa abusou Dora Kramer
- O IGP-M surpreende Celso Ming
- A culpa também é do Brasil Tamara Avetikian
- Hora da verdade - RICARDO NOBLAT
- Lula, Dirceu e a "farsa" - MELCHIADES FILHO
- PAC da privatização - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Cinco perguntas - J. R. GUZZO
- A legalização do Valerioduto - GUILHERME FIÚZA
- Técnica, mas política - MERVAL PEREIRA
- Alcance restrito - DORA KRAMER
- Contradições petistas - SUELY CALDAS
- Inflação como salvação - CELSO MING
- Agosto, mês de definições - ALBERTO TAMER
- O julgamento - MÍRIAM LEITÃO
- A eletricidade e o custo Brasil - EDITORIAL O ESTADÃO
- O estado de violência - GAUDÊNCIO TORQUATO
- O ''Dossiê Golpe de 64'' saiu da gaveta - ELIO GAS...
- Toda arte é atual - FERREIRA GULLAR
- Um julgamento para além do mensalão - EDITORIAL O ...
- À espera do mensalão - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Não sirvo, sirvo-me - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Não sirvo, sirvo-me - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Entre dois fogos Míriam Leitão
- Seca lá, bom tempo cá CELSO MING
- Ruy Castro - "Grrrnnf!", disse ele
- Não basta apenas anunciar concessões - EDITORIAL O...
- Eu e o bóson - RUY CASTRO
- E o mundo não se acabou - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE ...
- A crise da gerência da crise - EDITORIAL O ESTADÃO
- A piada de Delúbio - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
- Ritmo do trabalho - MIRIAM LEITÃO
- Mais perto da autonomia -Gilles Lapouge
- Idoso profissional Nelson Motta
- A sombra da suspeita —Dora Kramer
- O despreparo dos bancos Celso Ming
- Em greve e invisíveis Marcio Tavares D'Amaral
- Brasília por dentro João Mellão Neto
- A sombra presente - MIRIAM LEITÃO
- O lulismo e os salários federais - EDITORIAL O EST...
- Cultura do biombo Dora Kramer
- Só pensam naquilo Celso Ming
- China afeta menos o Brasil Alberto Tamer
- Contra o consumidor, de novo Carlos Alberto Sarden...
- Mambembe DORA KRAMER
- Estimada presidente Dilma Rousseff,: Elio Gaspari
- Com vento e sol - MIRIAM LEITÃO
- Continuam chegando - CELSO MING
- O mundo rosa de Tombini - EDITORIAL O ESTADÃO
- O desbalanço externo - ROLF KUNTZ
- Fácil matar - RUY CASTRO
- A antidiplomacia de Dilma - Editorial Estadão
- Moinhos de vento -Míriam Leitão
- O novo voo da galinha Luis Eduardo Assis
- Notícias da CPI Dora Kramer
- A Espanha geme Celso Ming
- Réquiem para o Mercosul Rubens Barbosa
- Qual o papel do Estado? Kemal Dervis
- Perigo na roça Xico Graziano
- Mensaleiros no tribunal Marco Antonio Villa
- Clichês da violência - VINICIUS MOTA
- Visão estratégica da matriz energética - ADRIANO P...
- Falta alguém - RICARDO NOBLAT
- Do pescoço para baixo - RUY CASTRO
- Chantagem na reta final - REVISTA VEJA
- A boa notícia, um alerta e os impostos Roberto Abd...
- Jornalismo e violência Carlos Alberto di Franco
- Luz, câmera, esculhambação - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- A praça é da tropa - DORA KRAMER
- A busca da produtividade - JOSÉ ROBERTO DE MENDONÇ...
- As esfumaçadas greves federais - GAUDÊNCIO TORQUATO
- O dentro sem fora - FERREIRA GULLAR
- Ter um passado é fundamental - DANUZA LEÃO
- A república de São Bernardo - REVISTA ÉPOCA
- A Argentina sob ataque - CELSO MING
- Recuperação a caminho - ALBERTO TAMER
- Saindo do armário Elena Landau
- Mundo obscuro Míriam Leitão
- Gerentona? —Élio Gaspari
- Choque de alimentos? - CELSO MING
- A sugestiva rebelião de juízes - EDITORIAL O GLOBO
- A erosão do sistema partidário - EDITORIAL O ESTADÃO
- Até quando abusarão da nossa paciência? - SERGIO A...
- Do FMI, com carinho - MIRIAM LEITÃO
- Novo celeiro do mundo - EDITORIAL O ESTADÃO
- Abaixo do tomate - RUY CASTRO
- Um tiro na nuca da nação - GUILHERME FIUZA
- Leleco no divã - NELSON MOTTA
- Procriação - DORA KRAMER
- O recado do Banco Central - CELSO MING
- Mobilidade emperrada - EDITORIAL O ESTADÃO
- Sempre às quintas - MIRIAM LEITÃO
- Nunca fomos tão felizes - FERNANDO GABEIRA
- Coragem para mudar Rogério Furkim Werneck
- 20/07/2012
-
▼
julho
(301)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA