FOLHA DE S.PAULO28/07/2012 RIO DE JANEIRO - Um antropólogo e um linguista de uma universidade da Flórida, nos EUA, anunciaram há pouco, pela revista "New Scientist", o resultado de seu impressionante estudo.
Baseando-se em fósseis encontrados na França e usando sintetizadores, eles reproduziram sons emitidos pelo homem de Neandertal há 30 mil anos. Note bem, sons, não palavras. O aparelho fonador de nosso avô Neandertal ainda estava na Idade da Pedra.
Daí que, segundo os cientistas, os sons que ele emitia eram primários. Não se comparavam aos nossos e estão mais próximos de um arroto humano ou de um grasnido de pato. Foi o que se ouviu nos computadores da dupla: "Arrout!" e "Quem-quem!". Se isso lhe parece um fiasco, lembre-se de que você também passou a primeira infância arrotando no colo de sua mãe e, mesmo hoje, às vezes arrota sem querer e em lugar impróprio. Quanto ao "quem-quem", o que seria de João Gilberto e da bossa nova sem o verso "O pato/ Vinha cantando alegremente/ Quem-quem"?
O problema de nosso antepassado é que ele ainda não desenvolvera a capacidade de emitir vogais, o que fazia com que grande parte de seu discurso se resumisse a uma sílaba, tipo "Grrrnnf!" ou "Zxcvb!". Por saber-se ruim de verbo, o homem de Neandertal procurou outros talentos para ser recebido em sociedade e aprendeu até a fabricar machados e lanças, embora não soubesse para que serviam. E, antes que se tornasse a alegria dos salões, extinguiu-se.
Talvez novas pesquisas consigam recuperar frases inteiras do velho Neander. A dúvida é se farão sentido ou se serão tão ocas e previsíveis quanto as dos jogadores de futebol entrevistados depois dos jogos.
Quero ver esse resultado. Aposto minha coleção de tampinhas que o vocabulário e o pensamento de Neandertal eram mais ricos e variados que os dos nossos craques.