O GLOBO - 27/07
Os dissídios dos petroleiros, bancários e metalúrgicos são em setembro, outubro e novembro. A tensão continuará no ar. São áreas que têm quadros distintos, o que pode produzir um ambiente de paralisações. O mercado de trabalho está passando por uma transição que cria alguns incentivos e alguns desincentivos ao movimento grevista.
Em geral, quando o mercado está aquecido, com maior demanda por trabalhadores do que oferta, é a hora em que, normalmente, explodem greves. Ou em conjuntura de crise aguda nos países, em que a paralisação é uma forma de protesto contra a situação geral, o que não é o caso aqui.
- O mercado de trabalho em algumas áreas está bem aquecido, ou seja, é difícil encontrar trabalhadores. Há falta de mão de obra no setor de óleo e gás, petroquímica e em algumas culturas agrícolas. O café, por exemplo, perdeu bastante oferta de trabalhadores, porque a indústria que foi para o interior foi um ponto de atração para a mão de obra que estava antes na agroindústria. No setor de mineração, mesmo com a queda das commodities, há uma procura acelerada por profissionais - avalia Pastore.
Ele acha que no setor público há uma mistura de fatos tornando o ambiente mais propício para greves.
- Há uma eleição, o que sempre torna o governo mais sensível às reivindicações. O professorado parado e o ex-ministro da educação concorrendo à prefeitura levaram o governo a elevar sua proposta inicial. Em vários outros setores está havendo um efeito das concessões feitas pelo governo Lula. Ele deu aumentos escalonados no tempo, comprometendo a administração seguinte. O que ele prometeu para ser cumprido pelo governo Dilma já é garantido, e os servidores pedem mais. Só que o governo está tendo um aumento do gasto. Além disso, eles têm estabilidade, o que torna tudo mais difícil.
No mercado privado, a economia veio aumentando muito a oferta de emprego, mas o último Caged - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - mostrou uma redução no ritmo de criação de vagas no mercado formal. Ainda é forte, mas cresce numa velocidade menor. No ano passado, no primeiro semestre, foram criados 1,4 milhão de empregos com carteira assinada e, este ano, no mesmo período, 1 milhão. Esse indicador reflete tudo o que acontece no mercado formal; todas as empresas têm que informar ao Ministério do Trabalho demissões e contratações. Já na PME, Pesquisa Mensal de Emprego, que o IBGE não conseguiu divulgar ontem, os dados são captados em seis regiões metropolitanas, mas pegam todo o mercado de trabalho, seja formal, informal, por contra própria. A PME vem mostrando queda do desemprego.
Como ontem só foram divulgados os dados das regiões - não o número agregado, ficaram claras as diferenças. Em Recife, o desemprego subiu de 5,9% para 6,3%; em Salvador, caiu milimetricamente, mas tem um nível muito alto, de 8% para 7,9%; em Belo Horizonte, recuou de 5,1% para 4,5%; em São Paulo, foi de 6,2% para 6,5% e, em Porto Alegre, caiu de 4,5% para 4%. Os índices de Belo Horizonte e de Porto Alegre são de quase pleno emprego. Já o de Salvador mostra que, mesmo nos bons momentos, o desemprego lá é maior. Houve crescimento do rendimento médio real em quatro das cinco regiões, exceto São Paulo. No dado anual, em todas houve aumento, e o destaque vai para Recife com 13,4%.
Um mercado de trabalho aquecido sustenta o consumo e é uma boa notícia. No do Brasil, mesmo com baixo desemprego, as empresas ainda mantêm desigualdades na contratação, como mostram os números desagregados de desemprego e renda, seja por gênero, raça ou idade. Portanto, as empresas não estão com tanta oferta assim, tanto que ainda se permitem preterir e preferir na hora da contratação e da elevação dos salários.
A indústria, há muito tempo, reclama de crise, mas não tem demitido ainda de forma significativa. Isso porque a empresa só demite quando considera que a crise não é passageira. Começou a acontecer agora.
O sociólogo José Pastore disse que, se não ocorrer a esperada recuperação no final do ano, pode-se chegar a 2013 com um quadro bem menos favorável ao emprego. O que o preocupa mais são os dados divulgados pela Fiesp, mostrando que os custos do trabalho estão aumentando, mas a produtividade, caindo.
- Esse descasamento preocupa muito a indústria. Quando há esse hiato, ou se repassa para preços ou se corta no lucro, ou então, a empresa demite.
Pela pesquisa, a produtividade caiu 0,8% em um ano e os salários cresceram 3,4%. É uma mistura de fraco desempenho da produção e, ao mesmo tempo, aumento dos salários.
Não há uma resposta única quando se quer saber como vai o mercado de trabalho brasileiro. Ele tem temperaturas diferenciadas por setores e regiões.