O Estado de S. Paulo - 26/07/2012 |
Se há um desvio de mentalidade em certos líderes empresariais brasileiros é o de que só pensam naquilo, como se não houvesse problema mais grave. Eles só pensam no câmbio. O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, é um deles. Sexta-feira, ao sair de encontro promovido pela sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmou que a indústria brasileira está "no bico do corvo em consequência do câmbio adverso". E insistiu: "A palavra hoje é câmbio". O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca, também tende a empurrar para a conta do câmbio todas as complicações pelas quais vem passando a indústria. "Os produtos importados avançam não por causa da sua melhor qualidade, mas porque o câmbio facilita o ingresso de produtos estrangeiros", declarou na terça-feira. Esse ponto de vista produz o desserviço de tirar o foco das verdadeiras questões de fundo - que estão na forte queda da competitividade do setor produtivo brasileiro e não somente da indústria, como desdobramento da elevação dos custos. Desde o início do processo de substituição de importações, em meados da década de 1940, o governo brasileiro, qualquer um deles, tratou de compensar com "mais câmbio" o baixo poder de competição da indústria nacional. Nunca, como acontece também hoje, havia o que chegasse. Fosse qual fosse a cotação do dólar em moeda nacional, "o câmbio sempre está defasado em pelo menos 30%" - conforme declaração atribuída na década de 1980 ao empresário Laerte Setúbal, da Duratex. Essa predisposição a resolver tudo por meio de ajeitações cambiais, não por reformas e redução de custos, criou empresários viciados em câmbio. Se não tomam seu trago, começam a ver bicho, como os alcoólatras. Essa compensação cambial já não pode ser dada como antes por um punhado de razões. Uma delas é haver um limite para desvalorização do real. Passou desse nível, muitas distorções tomam conta da economia. Isso significa que o custo Brasil tem agora de ser atacado tal como ele é. E não mais pelos seus disfarces. A indústria de máquinas, por exemplo, enfrenta problema de desempenho, porque o empresário brasileiro deixou de investir - embora tenha à sua disposição pujante mercado interno de consumo. E não está investindo porque tem de enfrentar incertezas e custos cada vez mais altos. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, voltou a advertir também terça-feira que, "se colocada no Brasil, a empresa mais competitiva do mundo perde imediatamente competitividade, num ambiente de altos juros, alta e complexa carga tributária, alto custo da energia e falta de infraestrutura". Isso não quer dizer que o câmbio esteja imune a desalinhamentos. Esses só não têm todo o peso atribuído por essas lideranças. A CNI divulgou ainda na terça-feira sua mais recente Sondagem Industrial. Lá está relatado que câmbio e juros já não são mais as grandes preocupações do setor. Câmbio é somente 14.ª prioridade das pequenas empresas; a 9.ª, das médias; e a 6.ª, das grandes. Ou seja, o diagnóstico das mazelas do setor produtivo está mudando até mesmo nas suas bases e, no entanto, alguns dirigentes seguem martelando em ferro já esfriado e se esquecem do principal problema que empurrou a indústria para o bico do corvo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, julho 26, 2012
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