Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 19, 2012

Grande risco CELSO MING

 - O Estado de S.Paulo
Nos quatro últimos dias, tanto o Fundo Monetário Internacional como Ben Bernanke (foto), presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), avisaram que entre os grandes riscos que corre a economia mundial está a falta de solução para os problemas da política orçamentária dos Estados Unidos.
É uma situação esdrúxula. Enquanto os grandes bancos centrais são fortemente convocados a imprimir moeda, para desempoçar o crédito e estimular a atividade econômica, o presidente do Fed adverte que são os políticos ou, no caso dos Estados Unidos, é o Congresso que tem de fazer sua parte.
O problema de fundo é que as despesas em 12 meses do governo dos Estados Unidos vêm sendo cerca de US$ 1,3 trilhão mais altas do que sua capacidade de arrecadação. A solução imediata implica expansão da atual capacidade de endividamento, hoje de US$ 15,2 trilhões. Se o Tesouro dos Estados Unidos não for autorizado a emitir mais títulos, a única saída passaria pela drástica contenção das despesas públicas, cuja principal consequência seria uma profunda recessão.
O maior obstáculo para essa solução é a recusa do Partido Republicano em aprovar tanto o aumento da dívida quanto o de impostos. Em agosto do ano passado, o Congresso dos Estados Unidos conseguiu aprovar, à décima primeira badalada, uma elevação da dívida pública de US$ 14,3 trilhões para US$ 15,2 trilhões. Outro aumento desse teto, para US$ 16,4 trilhões, só poderia acontecer com nova aprovação explícita do Congresso. Se o Tesouro dos Estados Unidos não puder emitir mais dívida, o governo terá duas opções: ou passará o calote em parte dos seus fornecedores ou será obrigado a cortar despesas unilateralmente, com os desdobramentos já apontados.
Nos seus dois pronunciamentos no Congresso dos Estados Unidos, na terça-feira e ontem, Bernanke advertiu que essa política fiscal é impraticável. Caso não seja dada prioridade para o controle do rombo orçamentário, ficará impossível garantir a virada da crise americana e mundial.
Na Europa, multiplicam-se críticas ao excesso de austeridade imposto aos países prostrados pelo excesso de dívidas e, ao mesmo tempo, exige-se que o Banco Central Europeu (BCE) tome o mesmo caminho do Fed: emita moeda e, com ela, recompre os títulos de países do euro - especialmente os de Espanha e Itália. O objetivo dessa manobra é criar mais demanda para os títulos, de maneira que os juros possam cair e, assim, mantenham o endividamento sustentável. O governo alemão vetou essa política, que implicaria o uso do BCE para levar todos os países do euro a pagar um pedaço da conta, que é só de espanhóis e italianos. Mas a falta de uma solução duradoura para a crise do euro talvez torne inevitável esse passo do BCE, que atualmente é considerado irresponsável.
A aprovação do Congresso americano para uma elevação do limite da dívida não é empreitada das mais fáceis. As eleições presidenciais serão somente em novembro. E o Partido Republicano entende que, se contribuir para aumentar as despesas do governo, estará favorecendo a candidatura do seu adversário político, o atual presidente Barack Obama.

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