Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 25, 2012

Continuam chegando - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 25/07


Enquanto os investimentos do governo federal patinam e os do empresário brasileiro seguem semiparalisados, os do estrangeiro continuam chegando aos borbotões.

As Contas Externas divulgadas ontem pelo Banco Central apontam, em junho, entrada líquida de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) de pouco mais de US$ 5,8 bilhões. No primeiro semestre foram US$ 29,7 bilhões (2,6% do PIB) - 9,4% a menos do que nos primeiros seis meses do ano passado. E, no período de 12 meses terminados em junho, somaram US$ 63,9 bilhões - algo 7,2% abaixo do total no período anterior (veja o gráfico).

É um volume de capitais mais do que suficiente para cobrir o rombo das demais contas externas, de US$ 25,3 bilhões no semestre e de US$ 51,8 bilhões em 12 meses.

Como é constituído de recursos de longo prazo, o IED deve ser considerado cobertura de excelente qualidade para o atual déficit nas contas externas. Seria ruim se fosse um financiamento feito preponderantemente com capitais especulativos, que chegam, mordem e batem logo depois em retirada.

Não há como evitar um déficit nas contas externas. O Brasil tem uma poupança interna muito baixa, de não mais que 16% do PIB. Isso torna a economia dependente, sobretudo, de investimentos externos. E eles seguem chegando.

O Brasil é dependente de investimentos externos por quê? É que, para que essa forte entrada de capitais de investimento não provoque excessiva valorização do real (alta do dólar) no câmbio interno, a economia brasileira tem de permitir algum déficit estrutural em conta corrente.

Há meses, alguns economistas brasileiros advertiam que a crise internacional e a paradeira interna afugentariam os investimentos estrangeiros ou, pelo menos, provocariam seu adiamento. Até agora, isso não aconteceu.

Ontem, o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, avançou que somente neste mês de julho o IED deve ultrapassar os US$ 7 bilhões.

Isso sugere que, ao longo de todo o ano de 2012, as projeções do Banco Central nesse item (US$ 50 bilhões) se mantêm conservadoras. As dos analistas auscultados semanalmente pelo Banco Central pela Pesquisa Focus são um pouco mais altas, de US$ 55 bilhões.

Enfim, enquanto o empresário brasileiro lamenta "o semestre perdido", como apontou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e ainda engaveta projetos de expansão, o estrangeiro, aparentemente, vem fazendo o contrário. Demonstra ter mais confiança do que o empresário brasileiro.

Até quando contar com esse afluxo de capitais? Não dá para saber. De um lado, os custos internos vão aumentando, sem que se note no coração do governo disposição séria de assegurar a recuperação da competitividade do setor produtivo. E, de outro lado, a administração da economia baseada na expansão do consumo dá sinais de esgotamento. Enquanto isso, o governo Dilma vai passando a percepção de falta de renovação estratégica.

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