O Estado de S.Paulo - 29/07
Agosto que se inicia promete ser um mês interessante no Brasil e no exterior. Lá fora, o BCE diz que "chega", agora vai entrar com tudo. E, aqui, o governo informa que não vai apenas prometer, mas pôr em prática uma série de medidas de resultados imediatos para evitar um PIB menor de 2,0% este ano. Elas se concentram em redução de impostos que poderá ser mais ampla, e não apenas desonerações fiscais localizadas por alguns meses, que pouco estimulam os investimentos de retorno mais longo.
O próximo mês pode vir a ser o da nova política econômica do governo para este ano. Julho foi o de dúvidas e hesitações. A partir de agosto, seria o que se pode chamar de "o semestre de cinco meses" da recuperação.
Consumo, investimento. Esta foi uma semana de muita especulação e expectativas nos bastidores de Brasília. A nova política se concentraria em duas linhas, a sustentação do estímulo à demanda interna e um esforço mais ousado para aumentar os investimentos oficiais e privados. A equipe econômica parece consciente de que só a demanda interna não será suficiente, mas conta apenas com isso para evitar o pior este ano. Parece consciente também de que sem o setor privado, os investimentos não deslancham, mas não há projetos do governo prontos para serem ativados em curto prazo. Mais ainda, que não pode contar com a melhoria da máquina administrativa para incrementar os projetos já iniciados e os em elaboração. Há dinheiro no BNDES, no Tesouro, no governo. Falta a capacidade para utilizá-lo.
E o setor privado ainda não reage. Estima-se que os investimentos da indústria recuaram 8,0% no semestre. Também aqui há crédito e juros menores, mas pesam a carga tributária e o pessimismo internacional. A impressão geral é de que tudo o que se fizer em investimentos só poderá ter retorno a médio e longo prazos - de 2013 em diante.
Menos impostos para todos. E aqui parece ganhar terreno a ideia de anunciar ainda em agosto redução generalizada de impostos e desoneração horizontal para todos os setores produtivos. A medida incluiria, principalmente, a redução de 20% dos custos trabalhistas para todos. Isso poderia provocar queda da receita, mas é uma perda aceitável porque seria em parte compensada pelo 1,0% a 2,0%, que incidiriam sobre o faturamento das empresas.
Mais ainda, argumenta-se em Brasília, que a receita cairá de qualquer forma se a economia não crescer e ficar em menos de 2,0%. Na verdade, já vem caindo, como revelam os números da Receita. Em junho, a arrecadação federal recuou 6,5% não só por causa das desonerações, mas pela estagnação da produção industrial.
Sinais de reação? A única boa notícia nesse setor, que não reage há anos, veio na tarde de sexta-feira. A sondagem de conjuntura que a FGV faz mensalmente entre as empresas mostra que em junho 9,3% dos pesquisados tinham estoques excessivos e, em julho, apenas 6,6%. Estão pensando em ajustar a produção à demanda. Mais importante ainda. Para o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo, os dados mostram que a principal preocupação da indústria neste momento não é mais o estoque, mas a demanda. "A falta de ritmo da demanda, do consumo, é o problema que aflige mais a indústria, mais do que os estoques", disse ele, apontando para algo novo que não se via há muitos meses.
É a vez do consumo. Isso revela que o Brasil dispõe de um ativo precioso, um mercado interno que, ao contrário do americano e do europeu, continua crescendo, talvez porque não estava sendo atendido antes, ao contrário dos Estados Unidos, Europa e Japão, com alta renda per capita.
Não é o caminho ideal nem o sustentável a longo prazo, mas é o que existe no momento. Para os analistas, o mais importante é que o governo não se iluda e seja ousado na atração de investimentos internos e externos. É o que anuncia mais do que promete para agosto. Não há o dilema produção, investimento ou consumo. Eles se somam, não se anulam. A diferença é que o consumo oferece resposta mais rápida. Só que, com o PIB recuando para menos de 2,0%, não há tempo para esperar.
Olha o cão raivoso. A coluna não resiste à tentação da fala popular, "quem não tem cão, caça com gato", mesmo sabendo que gato corre muito, mas não sabe caçar e, por isso, precisa trazer mais cães para o campo. E, de novo, ao contrário dos outros, há muitos nos canis de Brasília, latindo e à espera de serem chamados. Há um até mais inquieto, conhecido como superávit primário, que alguns temem usar porque pode se tornar raivoso... Será que não dá para vaciná-lo?