Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 01, 2012

Enfim, o governo vê a crise O Estado de S.Paulo


Ao admitir, pela primeira vez, que neste ano a economia brasileira vai crescer menos do que no ano passado, o governo começa a avaliar com mais realismo a gravidade dos impactos da crise mundial sobre o País. Trata-se, por enquanto, de uma espécie de realismo limitado, ou pela metade. Enquanto em seu mais recente Relatório da Inflação - documento trimestral em que avalia as condições da economia brasileira - o Banco Central (BC) corrigiu de 3,5% para 2,5% sua projeção para o crescimento do PIB em 2012 - menos do que o aumento de 2,7% registrado em 2011-, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seus principais auxiliares continuam a afirmar que neste ano o resultado da economia será "mais vigoroso" do que no anterior.
Após reconhecer, com atraso, a validade de argumentos e dados apresentados há vários meses por economistas do setor privado para mostrar a desaceleração da economia, o BC teve de rever para baixo a maioria das projeções que vinha fazendo para diferentes indicadores em 2012. Além da revisão de várias projeções, a redução de sua previsão de crescimento do PIB neste ano decorre de uma análise mais objetiva, e, por isso, mais pessimista, dos efeitos da crise da Europa e dos Estados Unidos sobre a economia brasileira.
O BC agora prevê que os investimentos produtivos crescerão apenas 1% neste ano, bem menos do que o aumento de 4,7% registrado no ano passado e menos ainda do que a projeção feita no relatório anterior, de 5%. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, atribuiu a drástica redução da projeção do aumento dos investimentos ao clima de incerteza no meio empresarial. Esse clima já vinha sendo detectado há certo tempo em levamentos realizados por diferentes instituições, como associações empresariais, sobretudo do setor industrial, e institutos de pesquisa.
Além disso, o relatório diz que a perspectiva de baixo crescimento da economia mundial deve se manter "por um período prolongado" e que a deterioração do cenário internacional se transmite para a economia brasileira, entre outros canais, pela perda de confiança dos empresários. Essa transmissão, reconhece o BC, "tem se manifestado intensamente sobre a economia real".
Como consequência inevitável da redução da estimativa de investimentos, caíram também as projeções para o crescimento dos diversos setores da economia. O BC cortou pela metade a projeção para a expansão da indústria, que agora está em 1,9%. Para o setor de serviços, projeta-se crescimento de 2,8%. A revisão mais drástica foi a da projeção para a agricultura, que, de um crescimento de 2,5% previsto no relatório anterior, passou para uma retração de 1,5%.
Em outra mudança relevante na sua avaliação da atividade econômica, o BC finalmente reconheceu o que o empresariado industrial vinha dizendo há anos: a demanda interna de bens industriais vem sendo atendida cada vez mais por produtos importados, em detrimento da produção local. Entre 2008 e 2011, o consumo aparente de bens industriais cresceu 16,7%, enquanto o PIB se expandiu 15,8%. Nesse período, enquanto a produção de bens industriais cresceu 5,9%, as importações desses itens aumentaram 45,9%.
Segundo o BC, "a participação dos importados no atendimento da expansão anual do consumo de bens industriais passou de, aproximadamente, 40% em 2008 e 2010 para 100% em 2011". Ou seja, tudo o que os brasileiros consumiram a mais em bens industriais no ano passado foi fornecido por fabricantes estrangeiros. Para o produtor local, a situação ficou ainda pior em 2012, pois, além de atender ao aumento da demanda interna, os produtos estrangeiros começam a roubar mercado dos nacionais.
Em compensação, para a inflação, que em 2011 foi de 6,5%, o BC projeta 4,7% em 2012, acima da estimativa feita no relatório do primeiro trimestre, de 4,4%, mas ainda bastante próxima da meta de 4,5% (que vem sendo mantida desde 2005 e foi fixada também para 2014). Evidentemente, a redução da inflação em 2012 é consequência do baixo crescimento da economia em decorrência das perspectivas da economia mundial, que já eram ruins e pioraram.

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