Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 23, 2010

Zumbilândia, uma comédia com mortos-vivos

A vingança do nerd

No divertido Zumbilândia, a sobrevivência não é prerrogativa
dos mais aptos, e sim dos mais ineptos e neuróticos por natureza


Isabela Boscov

Divulgação
SEMPRE ALERTA
Harrelson (de chapéu) e Eisenberg enfrentam um zumbi: em caso de hecatombe,
as fobias deixam de ser problema e passam a ser solução

O senso comum sugere que, em caso de hecatombe, os mais brutais e indiferentes seriam os mais aptos a resistir. Zumbilândia (Zombieland, Estados Unidos, 2009), que estreia no país na próxima sexta-feira, revê essa noção. Quem narra a história aqui é Columbus (o ótimo Jesse Eisenberg, de A Lula e a Baleia). Franzino, tímido e cheio de fobias, Columbus sobrevive já há uns dois meses à peste deflagrada por um hambúrguer contaminado, que transformou todos em zumbis vorazes, exatamente por ser tão neurótico. Primeiro, nunca teve namorada nem amigos. Ou seja, sempre achou os seres humanos estranhos, mesmo quando ainda não tinham virado zumbis, e está habituado à solidão. Suas paranoias e inaptidões, que tanto tolhiam sua vida, agora adquiriram um surpreendente valor prático. Nada mais útil, quando se está cercado de mortos-vivos, do que ter medo de germes e desconfiança de banheiros públicos e ser compulsivo no que toca a detalhes: Columbus nunca é pego sem munição, comida, lanterna ou agasalho. Nunca acredita que matou mesmo um zumbi, e sempre dá um segundo tiro para garantir. Nunca deixa também de afivelar o cinto de segurança, não importa a urgência: a precaução é imprescindível para quem quer ejetar zumbis escondidos no banco traseiro sem se espatifar junto com eles no para-brisa.

Dirigido pelo desconhecido Ruben Fleischer, Zumbilândia tem aquele apetite inconfundível dos filmes feitos por estreantes (os de talento, claro): é original na história, criativo no visual, escrachado na sangueira e sentimental em relação ao seu herói, que está ali para exaltar as melhores qualidades, raras vezes reconhecidas, dos adolescentes socialmente desastrados. Quando Columbus encontra pelo caminho o brutamontes Tallahassee (Woody Harrelson, divertindo-se muito), um caipira que não se cansa de inventar maneiras de exterminar zumbis, o diretor quase deixa Zumbilândia derrapar para a trilha batida dos filmes sobre duplas desajustadas. Mas, depois das animosidades de praxe entre os dois personagens, sai-se com um caso de admiração mútua e compreensão irrestrita: Columbus faz de tudo para ajudar Tallahassee a realizar seu sonho (encontrar um Twinkie, um doce muito popular, que ainda não tenha passado da data de validade). E Tallahassee faz o possível para ajudar Columbus a realizar o seu sonho particular – fazer com que a despachada Wichita (Emma Stone), que se juntou à dupla com sua irmã caçula (Abigail Breslin), dê uma chance a ele. A vida é difícil, sofisma o diretor: nem quando é praticamente o último homem sobre a Terra, um nerd tem qualquer garantia de arrumar uma namorada.


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