Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 17, 2010

CELSO MING - "Quero o meu de volta"

O ESTADO DE S PAULO

Se levada às suas últimas consequências, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de pedir de volta o dinheiro (do contribuinte) que foi perdido com a salvação dos bancos, exigiria atitude correspondente de cada resgate oficial e de cada subsídio.

É verdade que os bancos aprontaram de tudo antes e durante a crise. No dia 13, matéria no site americano Real Clear Markets, assinada por James Keller, tinha o seguinte título: Goldman Sachs-AIG - É provavelmente pior do que você imagina. E é essa percepção que se tem a cada caso graúdo envolvendo uma grande e poderosa instituição financeira.

O projeto de lei encaminhado por Obama ao Congresso cria a Taxa de Responsabilidade na Crise. Seu objetivo é recuperar em dez anos cerca de US$ 90 bilhões dos US$ 117 bilhões reconhecidamente perdidos com o resgate dos bancos americanos.

Mas o que permitiu essa iniciativa foi a indignação popular com o cinismo e a insensibilidade política dos dirigentes das grandes instituições financeiras que, depois de tudo o que aconteceu, continuam exigindo para si próprios o pagamento de bilhões e bilhões de dólares a título de prêmio por desempenho.

Os bancos não foram irresponsáveis sozinhos. O sistema inteiro permitiu que fizessem o que fizeram e esperou que assim o fizessem.

Foram, por exemplo, os grandes bancos centrais que propiciaram a fantástica liquidez que colocou a máquina em movimento e produziu as bolhas.

Foram os organismos supervisores e as agências reguladoras que deixaram tudo acontecer sem se darem ao trabalho de anotar nada de anormal. Foram as agências de classificação de risco que distribuíram certificados AAA para títulos que depois foram entendidos como ativos tóxicos. Foram as companhias de auditoria que semanas antes do desastre atestaram que os balanços dos bancos estavam perfeitos. E foram as seguradoras de crédito, como a AIG, que garantiram cobertura para esses ativos.

O fundamento da cobrança aos grandes bancos é a exigência moral de não deixar dívidas públicas de bilhões de dólares para serem pagas pelas gerações futuras. Se é isso, então será preciso submeter a tratamento equivalente outras instituições que também foram beneficiadas por volumosas alocações de recursos oficiais. Elas quebrariam se não tivessem sido socorridas.

A derrocada da GM e da Chrysler, por exemplo, nem tinha a ver diretamente com a crise financeira. Sua situação já era péssima antes da crise, por graves omissões e erros cometidos no passado. E piorou depois porque o crédito ficou bloqueado e suas vendas despencaram. Essas companhias também receberam verbas públicas que as livraram do naufrágio. E nada garante agora que as dívidas serão resgatadas. O socorro às montadoras não prejudicou apenas o contribuinte. Prejudicou, também, os concorrentes diretos, que não tiveram direito a igual moleza.

E por que será que o governo dos Estados Unidos e os de tantos outros países europeus injetam todos os anos cerca de US$ 200 bilhões na produção agrícola? Ora, porque sabem que, sem esses recursos e mesmo sem crise, esses produtores também quebrariam. E, no entanto, ninguém exige a devolução desse dinheiro dos contribuintes.

Confira:

A próxima crise - O economista Nouriel Roubini, que se notabilizou por prever a crise financeira, está advertindo para a próxima crise, segundo ele, a da dívida dos países ricos.

- Roubini parece bem sintonizado com o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, que, quinta-feira, também avisou que muitos países da União Europeia enfrentam fortes desequilíbrios fiscais.

- A principal aposta na chamada crise em W parte desse diagnóstico. Os países ricos teriam de enfrentar a alta inevitável dos juros num ambiente de grande endividamento e seriam atirados na recessã

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