O ESTADO DE S PAULO
Em toda parte há uma forte deterioração das finanças dos países mais ricos do mundo. Os rombos orçamentários e as dívidas públicas são crescentes. E isso, é claro, terá consequência.
O mergulho na crise global exigiu enorme esforço de resgate por parte dos tesouros e dos bancos centrais das maiores potências. Mas essa megaoperação de socorro apenas ampliou a encrenca que já vinha vindo há anos.
Os anos 80 e 90 foram de quebras sucessivas de países emergentes. Ainda não houve nenhuma suspensão de pagamentos de país avançado. Mas os números mostram que o risco de que isso aconteça é cada vez maior.
Em parte, esses aumentos da despesa pública têm a ver com o entendimento de que o Estado precisa proteger os interesses de trabalhadores, empresas e bancos sob seu guarda-chuva. Mas o que se teme é que essa intervenção muito acima da capacidade de receita comprometa o futuro das próprias entidades que hoje vêm tendo cobertura oficial.
A cada ano parece mais próximo o dia em que os atuais credores dos países ricos se recusarão a continuar financiando déficits cujo crescimento é insustentável. O caso da Grécia, agora sob forte crise de confiança, pode ser o primeiro de uma série de quebras soberanas. E a palavra 'série não pode ser evitada porque a suspensão de pagamentos de um tende a fechar o crédito para outros tantos.
Mais cedo ou mais tarde, uma a uma, essas economias terão de se ajustar. E o preço do ajuste que se segue a um default ou a uma situação próxima disso é conhecido: é redução das despesas públicas, aumento da arrecadação, esticada dos juros, recessão e aumento do desemprego.
Como todo devedor tem um credor, não dá para ignorar o impacto sobre a outra ponta do sistema. Sem esse ajuste, uma impressionante cadeia de detentores de títulos de dívida de países soberanos poderia romper-se. Pense nos US$ 10 trilhões em patrimônio dos fundos de pensão (e suas aposentadorias futuras), em outros trilhões dos fundos de investimento e das reservas das seguradoras e não vamos deixar de fora os US$ 7,3 trilhões em reservas externas dos próprios países soberanos, como China (US$ 2,2 trilhões), Japão (US$ 1,0 trilhão), Rússia (US$ 439 bilhões) e Brasil (US$ 241 bilhões).
Quando olham para essas coisas, os catastrofistas de sempre, como o economista Nouriel Roubini, que se notabilizou por ter previsto a crise, apregoam dias amargos pela frente, sem data marcada para começar. Mas essa não é a única aposta. A mais numerosa ainda é a de que esse inevitável processo de ajuste não será tão doloroso quanto essa gente vaticina. Infelizmente, o tamanho da dor, se houver dor, apenas será avaliada quando (e se) ela começar a ser sentida.
Em todo o caso é preciso ver os limites do outro lado. Se fugirem dos títulos públicos dos países avançados, como farão alguns como reação a qualquer grande default, os credores logo verificarão que não terão muitas opções onde ancorar seu capital
A capacidade de emissão de títulos do setor privado é naturalmente limitada e mais limitada ainda ficará quando os lucros das grandes empresas tenderem a cair com a retração da atividade econômica e com a queda do consumo destinados a formação de poupança necessária para garantir a recuperação das finanças do Estado. Provavelmente, um pouco mais seletivos, os credores voltarão aos treasuries.
Mas isso não elimina o problema de fundo, que é a situação preocupante do mundo rico.
Entrevista:O Estado inteligente
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