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Gosto muito de ditados. Quanto mais antigos, melhor. Como esse velho provérbio português que escolhi para batizar minhas palavras, hoje.
Dizem que o presidente adoeceu por excesso de trabalho. Que seu pico de hipertensão é resultado de dias estafantes, acúmulo de compromissos, quantidade absurda de viagens, um calor inclemente e um palanque atrás do outro, sempre muito exaltado e nervoso, não se sabe bem porque, já que seu governo é tido e havido como a própria perfeição, segundo avaliação de gregos, troianos, trabalhadores e capitalistas.
Não sou médica, nem enfermeira, mas há muito estranho o vermelho-beterraba do presidente cada vez que ele se altera num palanque, além do fato dele não conseguir falar sem se agitar, parece uma fera selvagem recém enjaulada, não pára quieto um instante.
O que me pareceu exagerado foi atribuir a excesso de trabalho a estafa do Lula. Que trabalho? Administrar o Brasil ou administrar a campanha de sua candidata-nomeada? Desculpem, me expressei mal: administrar a suposta campanha de sua suposta candidata-nomeada?
Para chegar a uma conclusão, resolvi reler, escolhendo os dias ao acaso, as agendas do presidente. Vejamos: 12 de agosto de 2008. Às 9h:30, recebe o ministro Nelson Jobim; 10h:15, Lula é apresentado aos novos oficiais-generais. 11 horas, ato de assinatura de um decreto. 12h:30, embarque para o Rio de Janeiro onde, às 14h:20, visita o terreno da UNE na Praia do Flamengo. 15h:30, cerimônia de lançamento da Caravana da UNE, da Caravana da Saúde e do Pacto da Juventude. 17h40, embarque para São Paulo, onde comparece a uma cerimônia para entrega de um prêmio, na Casa de Espetáculos Via Funchal. 21h15, regresso a Brasília.
Em 18 de março de 2009: 8h, embarque para o Rio de Janeiro; 10h30, visita o terminal de regaseificação de gás natural liquefeito na Baía de Guanabara; 12h15, embarque para Brasília; 15h15, reunião com Nelson Jobim, ministro da Defesa; 17h, reunião com Dilma Rousseff, ministra-Chefe da Casa Civil; 18h, reunião com Henrique Fontana (PT/RS), líder do governo na Câmara; 18h30, reunião com D. Erwin Krautler, bispo do Xingu (AM).
Um dia qualquer de 2008 e outro dia qualquer de 2009. Agendas puxadas? Não acho. Chatas? Talvez. Maçantes? Sempre iguais? Com certeza. Mas cansativa para quem não carrega nem a própria escova de dentes, se desloca em carros de alto luxo e viaja num avião todo equipado para dar o máximo de conforto ao passageiro? Desculpem, cansativa seria para qualquer um, menos para o paparicadíssimo presidente da República do Brasil.
Mas vamos pegar outro dia, no início deste ano da graça de 2010, ano em que a tal campanha-Viúva Porcina começa a tomar vulto, 19 de janeiro:
08h - Partida para Araçuaí (MG)
09h50 - Chegada a Araçuaí
10h25 - Visita à barragem Setúbal e encontro com trabalhadores da obra Jenipapo (MG)
11h - Cerimônia de inauguração da barragem Setúbal
13h - Visita ao campus Araçuaí do Instituto Federal Norte de Minas, Centro, Araçuaí
13h15 - Cerimônia de inauguração do campus Araçuaí, do Instituto Federal Norte de Minas, e assinatura de convênio do Programa Brasil Profissionalizado
16h40 - Visita às instalações da Unidade Termelétrica Juiz de Fora, Distrito Industrial, Juiz de Fora (MG)
17h - Cerimônia de início da operação com etanol da Usina Termelétrica Juiz de Fora
18h45 - Cerimônia de inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santa Luzia
Juiz de Fora
20h30 - Partida para Brasília; 21h45 - Chegada a Brasília.
Puxa, essa eu cansei só de ler. Verdade. Mas gostava que alguém me explicasse: sem a presença física do presidente da República nessas solenidades, nada disso aconteceria? Quer dizer, a barragem não entraria em funcionamento, o campus não seria inaugurado, a usina termelétrica não começaria a operar com etanol? E, mais espantoso que tudo, será necessária a presença do mais alto funcionário da Nação na inauguração de um Posto de Pronto Atendimento?
Inaugurações, condecorações, premiações, almoços, festas, comícios, palanques, sempre muitos palanques... e sempre sua Chefe de Gabinete ali, atenta, ele na esperança que ela aprenda com ele a fazer o que ele mais sabe fazer: campanha!
Eu só me pergunto uma coisa: há país mais fácil de comandar? Não acredito. O Brasil é o único país do mundo que tem um Gabinete Voador.
Leio em O Globo de ontem que em 2009 Lula passou 83 dias viajando pelo Brasil e 91 dias no exterior, visitando 31 países. Que em seus 7 anos de governo passou 426 dias no exterior. Citam como exemplo o dia 6 de novembro de 2009: Lula chegou a Brasília vindo de Londres às 09h:15; às 15h:00 estava numa solenidade de sanção de plano de carreira de policiais militares e bombeiros do Distrito Federal!; e à noite foi para São Paulo participar do congresso do PC do B. Tudo isso como prova de uma agenda desgastante. O que é fato.
Deve ter se cansado, nem que seja pelo fuso horário que a alguns derruba mesmo. Mas qual o benefício que esses deslocamentos trouxeram ao Brasil?
Não duvido nem um pouco que ele esteja estressado. As viagens em excesso podem ser cansativas, apesar do alto luxo e conforto em que ele viaja. A profusão de palanques e a virulência de seus discursos, só podem fazer mal. Repousar é fundamental, ainda mais para um homem com mais de 60 anos, fumante e com excesso de peso. Tudo isso é fato.
Mas, por favor, não queiram jogar nas costas do Brasil o sacrifício do presidente Lula porque isso não vai colar! Ele tem é que decidir: ou bate o sino e fica no Gabinete trabalhando, ou larga o sino e sai carregando o andor por todos os municípios e estados da Federação.
Entrevista:O Estado inteligente
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