Quando vieram os telefones, era sinal de status ter um. Quando se tirava o fone do gancho, atendia a telefonista |
QUE COISA boa é um telefone, e melhor ainda quando ele toca. Quando isso acontece, sempre penso que vai ser uma notícia maravilhosa, um convite com o qual nunca sonhei, de tão bom, alguém que eu pensava que nunca mais, e de repente ouvir aquela voz querida e dar risada, de tanta felicidade. Mesmo com o celular -não o meu, que está sempre com a bateria descarregada-, o Blackberry, o e-mail e todas as novidades que surgem a cada semana, nada melhor do que um bom telefone, de preferência preto, pesado, com fio, sem bina, sem secretária eletrônica, de discar, e não de teclar, tocando bem alto: nesses a gente confia. E pode ser levada a sério uma mensagem que só pode ter 140 toques?
Fico pensando no tempo em que o telefone ainda não existia. Segundo os livros da época, havia então os "moleques de recado", garotos cuja função era cruzar a cidade várias vezes por dia, levando um bilhete ou um simples recado. Quando vieram os primeiros telefones, era sinal de status ter um em casa. Lembro que em Vitória, onde eu morava, eles tinham apenas três números; o nosso era 674 -como é que eu fui lembrar disso?- e o aparelho (nada de extensão) ficava na sala, preso na parede.
Quando se tirava o fone do gancho, atendia uma telefonista, a quem se dizia com que número se queria falar. Ela fazia a ligação ou, se fosse o caso, dizia que o telefone estava ocupado, para ligar mais tarde. Dá para acreditar que era assim? E os interurbanos então?
Com esses, era assim: de manhã você pedia uma ligação para um determinado número em São Paulo, por exemplo, e marcava para as 8h da noite, geralmente de pessoa para pessoa; isso significava que a telefonista faria a ligação e diria que havia uma chamada de tal cidade, de tal pessoa, querendo falar com a pessoa tal. Se ela não estivesse, a ligação não seria completada, e só para explicar: ligações interurbanas, só pedindo com antecedência, geralmente de umas 12 horas. Imagine o que era um telefonema internacional.
Se os interurbanos já eram um luxo a que só alguns tinham acesso, os internacionais, então, nem se fala. Para começar, uma hora antes da hora marcada (de véspera), a telefonista ligava e confirmava que a ligação seria completada na hora programada -ou não. A partir daí, ninguém podia ocupar o telefone, e quando chegava o tão esperado momento, não havia lugar para nenhuma emoção, pois o som era tão ruim, ouvia-se tão mal, que só se queria uma coisa: ouvir melhor. Um "estou com saudades" não tinha nada a ver, pois precisaria ser repetido três, dez vezes, aos gritos, até que o de lá entendesse. Quando acontecia um telefonema internacional, todas as pessoas da casa ficavam em volta, para presenciar o milagre.
Como não se podia contar muito com o telefone, havia os telegramas, que eram assim: para mandar, você ia ao correio e procurava fazer o texto mais curto que pudesse, pois pagava-se por palavra. Quando o estafeta -minha memória hoje está tinindo- batia na porta, era um momento sério em qualquer casa. Telegramas eram para desejar feliz aniversário, anunciar um nascimento ou uma morte. Alguém assinava o recibo e todos se reuniam gravemente para ouvir a leitura, sabendo que boa coisa não devia ser.
Agora, quando eu falo pelo Skipe com Paris e ainda vejo o rosto do meu interlocutor, acho a coisa mais natural do mundo. Mas quando tento comprar um telefone e só encontro aqueles que se você puxar o fio o aparelho vai junto, morro de saudades daqueles bem pesadões. E de muitas outras coisas.