Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 16, 2010

CELSOM MING Ataque aos gatos gordos

A decisão do presidente Barack Obama de enviar ao Congresso americano projeto de lei que cobra dos grandes bancos comerciais, bancos de investimento e seguradoras um novo imposto, a Taxa de Responsabilidade na Crise, é um precedente que poderá ser evocado no resto do mundo para conter os lucros dos bancos.

O presidente Obama justificou a criação do novo imposto como uma espécie de indenização: 'Queremos nosso dinheiro de volta', disse. E ele se referiu aos US$ 730 bilhões despejados pelo Tesouro dos Estados Unidos na tarefa de salvar as instituições financeiras do naufrágio. Na verdade, ele quis dizer mais do que isso.

Quis explicitar o que o americano comum está pensando. Quis lembrar que os dirigentes dos grandes bancos foram irresponsáveis na administração dos negócios, enfiaram nas barrigas dos bancos centenas de bilhões de dólares em aplicações que logo em seguida foram chamadas de ativos podres, provocaram rombos patrimoniais enormes, obrigaram o Estado a intervir com nada menos que US$ 730 bilhões em dinheiro do contribuinte para evitar o naufrágio de toda a frota financeira e, novamente, para indignação geral, não abrem mão de bilhões de dólares em prêmios de desempenho, que Obama chamou de 'bônus obscenos'.

Há alguns meses, o governo dos Estados Unidos pareceu acatar o argumento dos cartolas de Wall Street de que os bônus são assunto privado no qual o poder público não deve se meter. A mudança de posição de Obama não é apenas o resultado de pressões políticas. É o resultado da sólida argumentação de que a distribuição dos tais bônus só foi e continua sendo possível porque entrou no jogo o dinheiro público.

Enfim, os dirigentes das grandes instituições financeiras estão provocando a indignação da sociedade americana. Banqueiro nunca foi uma figura amada, mas algumas vezes foi admirado. Depois dessa crise e das poucas coisas que vieram a público - porque a maioria continua 'sob sigilo bancário' - esses dirigentes passaram a ser chamados de 'gatos gordos', de aproveitadores e do que mais se pode imaginar.

O princípio oficialmente reconhecido como 'grande demais para falir' (too big to fail), em nome do qual se queimaram centenas de bilhões de dólares na salvação dos bancos, começa a ser visto como instrumento de chantagem dos banqueiros, como bananas de dinamite amarradas à cintura de um terrorista que ameaça: 'Ou vocês nos salvam ou derrubo este Boeing'.

Anos atrás, alguns banqueiros produziram lambanças equivalentes no Brasil e seus bancos foram salvos pelo Proer. Hoje, ao que se sabe, não há encrencas financeiras graves por aqui. O que há é cobrança de juros do olho da cara no crédito e tarifas escorchantes sob a justificativa de que se trata de retorno derivado de condições normais de competitividade financeira. E depois, embora tentem esconder com formação de provisões e outros truques contábeis, acabam mostrando resultados impressionantes.

De tempos em tempos, aparece alguém lá em Brasília defendendo a criação de uma taxa sobre os lucros extraordinários dos bancos. A iniciativa do presidente Obama poderá ser evocada agora para justificar coisas assim.

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