A sociedade carioca entrou em entropia desde que o tráfico instalou-se nas favelas |
FABIANO ATANÁSIO da Silva, o FB, que comandou a invasão do morro dos Macacos, estava preso e foi beneficiado pelo regime de prisão-albergue, isto é, foi lhe dado o direito de sair do presídio, de dia, para trabalhar, e voltar, à noite, para dormir. Atanásio, a exemplo de dezenas de outros bandidos, saiu e não voltou mais. E a gente se pergunta: se Atanásio foi condenado por ser chefe do tráfico naquela favela, a que trabalho o juiz, que lhe concedeu a prisão albergue, acha que ele iria se dedicar? Coerentemente, o FB foi fazer o trabalho que sempre fez: traficar.
É impossível negar que, em matéria de Justiça, vivemos, no Brasil, uma espécie de comédia: uma cena recente desse pastelão foi a briga entre a Justiça Estadual de São Paulo e a Justiça Federal, cada uma delas atribuindo-se o direito de julgar os ladrões que roubaram duas telas -uma de Portinari e outra de Picasso- do Masp. A Justiça Estadual os condenou, o advogado de defesa recorreu da sentença e o Superior Tribunal de Justiça a anulou, alegando que, como as obras tinham sido tombadas pelo Iphan, órgão federal, caberia à Justiça Federal julgar os ladrões, e mandou soltá-los. Ou seja, enquanto os juízes brigam, os ratos passeiam em cima da mesa.
Ainda como parte da comédia nacional, registre-se o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao dar posse ao novo ministro de Assuntos Estratégicos, aquele ministério que já por si é uma piada. Todos sabemos que esse ministério foi entregue ao não menos extravagante Mangabeira Unger, que já se foi, e era conhecido como o "ministro do futuro". Lula, que odeia ler, mas adora discursar, quando abre a boca diz qualquer coisa. Pois vejam o que ele disse, no discurso, confundindo o nome de seu ex-ministro com o do deputado Fernando Gabeira, seu adversário político: "O Gabeira não está aqui, está certamente naquela escola em Chicago...". E, sem se dar conta da confusão que fazia, acrescentou: "O dia em que o companheiro José Alencar e a direção do PRB entraram em meu gabinete para aprovar o nome do companheiro Gabeira para ministro...". Como se não bastasse, ao se dirigir ao novo ministro do futuro, Samuel Guimarães, chamou-o de Mangabeira, e, ao tentar corrigir o erro, piorou, trocando-lhe o nome de Samuel por Salomão... Parece que bebe!
Criticado pelo presidente do STF devido ao comício-piquenique que fez com Dilma e seus ministros, às margens do São Francisco, Lula respondeu: "Agora eles estão nervosos porque estamos inaugurando obras". Mentira, estavam ali, segundo a própria versão oficial, para "fiscalizar" as obras mas, ainda assim, desde quando é função do presidente da República fiscalizar obras? Apenas pretexto para fazer campanha eleitoral fora do prazo legal. A alegação de que isso está dentro da lei, porque só é proibido inaugurar obras públicas após 31 de julho do ano eleitoral, não significa que se pode fazer campanha eleitoral anos antes daquela data; é um sofisma, que o STF estranhamente engoliu. E Lula ainda teve a desfaçatez de afirmar que estava ali a trabalho (com Dilma e Ciro), comendo churrasco e ouvindo um cantor de forró, por ele contratado. E, com a maior cara-de-pau, afirmou: "É muito fácil assumir a Presidência da República e não fazer nada, porque ninguém nunca fez". Gente, até quando o país vai ter que aturar semelhante megalomania? Ninguém imaginou que um presidente oriundo da classe operária viesse a dar nisso.
Conforme a segunda lei da termodinâmica, os sistemas físicos tendem à desordem. A perturbação da ordem de um sistema chama-se entropia, como, por exemplo, os ruídos numa transmissão radiofônica. Isso vale também para outros sistemas, como a sociedade humana, cuja ordem é mantida pelas normas e leis que regem o comportamento de seus integrantes. A sociedade carioca, por exemplo, como sistema social, entrou em processo de entropia desde que, nos anos 70, o tráfico começou a instalar-se nas favelas. Os conflitos armados entre grupos de traficantes e desses com a polícia comprometem a ordem social e põem em risco a vida das pessoas. Essa tendência à desordem pode ser revertida se o governo e a sociedade, juntos, se dispuserem a isso.
O prefeito do Rio decidiu promover corridas de Fórmula Indy no aterro do Flamengo, área de lazer que ostenta belos exemplares da mata brasileira, ali plantados por Burle Marx. Vão atormentar os moradores do Flamengo e envenenar a fauna e a flora do parque, embora exista na cidade um autódromo. Sai um imperador entra outro!