Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 11, 2009

CELSO MING - Deslumbramento

O ESTADO DE S PAULO,

Há uma espécie de deslumbramento com o Brasil no exterior. É a imprensa internacional atuando como uma banda de música, exaltando as virtudes do País e sua até agora desconhecida capacidade de enfrentar uma crise de vastas proporções. Isso coincide com a escolha do Brasil para sediar a Olimpíada e, também, com a concessão do grau de investimento pelas três mais importantes agências mundiais de classificação de risco.

E tem algo a ver com a própria imagem do presidente Lula, o ex-pau de arara que comia farinha de mandioca com rapadura e se tornou um chefe de Estado surpreendente, capaz de emendar frases esquisitas com tiradas populares que só na boca dele ficam engraçadas, mas que, ao mesmo tempo, mostrou que é capaz de evitar besteiras grandes demais em política econômica.

Segunda-feira, no seu programa de rádio Café com o Presidente, Lula fez uma espécie de balanço do resultado de suas últimas viagens ao exterior e disse que o Brasil vem tendo um reconhecimento internacional sem precedentes. Melhor teria dito se, em vez de reconhecimento, tivesse usado a palavra encantamento.

Bem administrado, esse encantamento deve atrair ainda mais capitais porque nenhum grande investidor à procura de oportunidades pretende ficar de fora do que começa a ser identificado como a nova onda Brasil.

À medida que o País for percebido como um risco substancialmente mais baixo, também tende a se reduzir o custo das operações financeiras feitas por aqui. Certamente novos negócios serão facilitados porque, entre o Brasil e outra opção menos glamourosa, os investidores preferirão surfar essa onda. Haverá, também, como começa a haver, mais benevolência em relação às nossas mazelas e limitações: violência urbana, desorganização do setor público, enorme carga tributária, excesso de burocracia, baixo índice de escolaridade. E, certamente, haverá mais boa vontade política com as propostas e aspirações do País.

Mas o deslumbramento também apresenta consequências negativas. Em primeiro lugar, a forte atração de capitais tenderá a valorizar ainda mais o real, fator que trabalha para tirar competitividade do setor produtivo nacional. E, em segundo lugar, o deslumbramento apresenta um componente irracional, uma espécie de relação cobra-passarinho que dificilmente acaba bem - para o passarinho, é claro.

O risco maior é o de que um detonador qualquer transforme o deslumbramento em decepção, como ocorre nas grandes paixões. E, quando isso acontece, fica difícil virar outra vez o jogo. Para que o Brasil possa tirar proveito desse especial interesse mundial e evitar desilusões fatais, é preciso mais ordem na casa e mais disciplina fiscal.

Será preciso reduzir a carga tributária, promover as reformas, investir pesadamente em educação e no preparo da juventude, desenvolver projetos sérios de infraestrutura, modernizar a Justiça para garantir solução rápida dos conflitos, promover a reforma política e desburocratizar o serviço público.

A composição de uma agenda para a construção do futuro caminha nessa direção. E, se for bem-sucedida, consolidará a confiança tanto interna como externa. Mas é preciso agir e não só comemorar narcisisticamente o encantamento alheio.

Confira:

Esticada - Os preços do barril de petróleo chegaram a cair para US$ 34 em fevereiro. Mas, de lá para cá, não param de subir. Há 21 dias ultrapassaram os US$ 80 e a tendência é de alta por conta da desvalorização do dólar e do aumento da procura.

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