São apenas os primeiros sinais de que o governo chinês prepara certa valorização do yuan em relação ao dólar.
Ontem, aumentaram as apostas nos mercados cambiais de que virá uma desvalorização do yuan depois que o relatório trimestral do Banco do Povo da China (banco central) deixou claro que a política cambial "vai levar em conta os fluxos especulativos de moeda estrangeira e a própria desvalorização do dólar no câmbio global".
A excessiva desvalorização do yuan (ou renminbi, o outro nome da moeda chinesa) tem a ver com o regime cambial adotado, que é de atrelamento ao dólar. O câmbio está fixado em 6,8 yuans por dólar. O banco central chinês compra e vende moeda estrangeira observando essa relação. Como a China tem enormes superávits com os Estados Unidos e o resto do mundo, o banco central acaba comprando mais dólares do que vende. Essa é a razão pela qual as reservas chinesas alcançaram os US$ 2 trilhões.
Como toda manifestação oficial chinesa é intencional, é preciso atenção em dois focos. Primeiramente, no claro movimento destinado a preparar os espíritos para alguma mexida no câmbio. E, em segundo lugar, no que as autoridades pretenderam dizer com "fluxos especulativos". Parece evidente que os especuladores já começam a apostar na valorização do yuan e isso parece estar intensificando o despejo de dólares no mercado chinês.
Em contraponto a essa manifestação do banco central chinês há as declarações do ministro do Comércio do país, Chen Deming. Ele reiterou que "uma cotação estável do yuan cria expectativas estáveis para os exportadores".
Fora da China, praticamente todas as autoridades da área econômica pedem a forte valorização do yuan para atacar a crise global de forma adequada. Explica-se: apenas em 2009, o dólar se desvalorizou 6% em relação ao euro e 12% em relação à libra esterlina. Esse é um movimento indispensável para proporcionar o ajuste global. No entanto, o atrelamento (pegging) do yuan ao dólar é um forte obstáculo ao ajuste na medida em que arrasta o yuan na mesma proporção da queda do dólar. Acaba não acontecendo o que teria de ser uma redução de exportações da China para os Estados Unidos e um aumento das exportações dos Estados Unidos para a China.
Como as exportações chinesas foram pouco prejudicadas pela crise e como uma das respostas do país a ela foi a distribuição de incentivos ao consumo interno, a tendência é de um aumento da demanda de produtos industriais chineses. Ou seja, apesar da crise, a indústria chinesa trabalha não só com matérias-primas baratas (o que barateia o produto final), mas também com aumento da escala de produção, o que tende a diluir os custos.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega a Pequim neste fim de semana. O tema valorização do yuan não sai da agenda americana pelo menos nos últimos quatro anos. Parece provável que alguma coisa acontecerá para azeitar as negociações entre os dois impérios.
Ninguém se iluda. Se mexer, a China mexerá apenas um dedo, mas o mundo o perceberá como um salto acrobático. A tomada de decisões do dragão chinês é lenta e seus movimentos, mais ainda. Mas qualquer coisa que acontece por lá tem impacto global.
Confira
Encantamento - Quarta-feira, esta coluna chamava a atenção para o deslumbramento que o Brasil vinha despertando. Algumas pessoas acharam que havia exagero nessa percepção.
Ontem, a revista semanal mais importante do mundo, The Economist, passou a circular com o Brasil na capa e mais 14 páginas analisando a decolagem da economia brasileira. É a prova de que a percepção sobre a existência desse deslumbramento está correta.
A maré é boa. Mas, se o momento não for aproveitado para colocar a casa em ordem, o encantamento se transformará rapidamente em decepção.
Ontem, aumentaram as apostas nos mercados cambiais de que virá uma desvalorização do yuan depois que o relatório trimestral do Banco do Povo da China (banco central) deixou claro que a política cambial "vai levar em conta os fluxos especulativos de moeda estrangeira e a própria desvalorização do dólar no câmbio global".
A excessiva desvalorização do yuan (ou renminbi, o outro nome da moeda chinesa) tem a ver com o regime cambial adotado, que é de atrelamento ao dólar. O câmbio está fixado em 6,8 yuans por dólar. O banco central chinês compra e vende moeda estrangeira observando essa relação. Como a China tem enormes superávits com os Estados Unidos e o resto do mundo, o banco central acaba comprando mais dólares do que vende. Essa é a razão pela qual as reservas chinesas alcançaram os US$ 2 trilhões.
Como toda manifestação oficial chinesa é intencional, é preciso atenção em dois focos. Primeiramente, no claro movimento destinado a preparar os espíritos para alguma mexida no câmbio. E, em segundo lugar, no que as autoridades pretenderam dizer com "fluxos especulativos". Parece evidente que os especuladores já começam a apostar na valorização do yuan e isso parece estar intensificando o despejo de dólares no mercado chinês.
Em contraponto a essa manifestação do banco central chinês há as declarações do ministro do Comércio do país, Chen Deming. Ele reiterou que "uma cotação estável do yuan cria expectativas estáveis para os exportadores".
Fora da China, praticamente todas as autoridades da área econômica pedem a forte valorização do yuan para atacar a crise global de forma adequada. Explica-se: apenas em 2009, o dólar se desvalorizou 6% em relação ao euro e 12% em relação à libra esterlina. Esse é um movimento indispensável para proporcionar o ajuste global. No entanto, o atrelamento (pegging) do yuan ao dólar é um forte obstáculo ao ajuste na medida em que arrasta o yuan na mesma proporção da queda do dólar. Acaba não acontecendo o que teria de ser uma redução de exportações da China para os Estados Unidos e um aumento das exportações dos Estados Unidos para a China.
Como as exportações chinesas foram pouco prejudicadas pela crise e como uma das respostas do país a ela foi a distribuição de incentivos ao consumo interno, a tendência é de um aumento da demanda de produtos industriais chineses. Ou seja, apesar da crise, a indústria chinesa trabalha não só com matérias-primas baratas (o que barateia o produto final), mas também com aumento da escala de produção, o que tende a diluir os custos.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega a Pequim neste fim de semana. O tema valorização do yuan não sai da agenda americana pelo menos nos últimos quatro anos. Parece provável que alguma coisa acontecerá para azeitar as negociações entre os dois impérios.
Ninguém se iluda. Se mexer, a China mexerá apenas um dedo, mas o mundo o perceberá como um salto acrobático. A tomada de decisões do dragão chinês é lenta e seus movimentos, mais ainda. Mas qualquer coisa que acontece por lá tem impacto global.
Confira
Encantamento - Quarta-feira, esta coluna chamava a atenção para o deslumbramento que o Brasil vinha despertando. Algumas pessoas acharam que havia exagero nessa percepção.
Ontem, a revista semanal mais importante do mundo, The Economist, passou a circular com o Brasil na capa e mais 14 páginas analisando a decolagem da economia brasileira. É a prova de que a percepção sobre a existência desse deslumbramento está correta.
A maré é boa. Mas, se o momento não for aproveitado para colocar a casa em ordem, o encantamento se transformará rapidamente em decepção.