Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 21, 2009

VEJA Carta ao Leitor


Um mito em construção

Valéria Gonçalvez/AE
Cena do filme
Lula, o Filho do Brasil: uma mãozinha no projeto de endeusamento


Dizem os publicitários que a boa propaganda é a maneira mais eficaz de enterrar um mau produto. Em política, as coisas se passam ao contrário. A propaganda funciona para oferecer aos eleitores mitificações que, muitas vezes, guardam pouca relação com o candidato real. Não é por outra razão que as campanhas custam cada vez mais caro. Em 2010, a candidatura presidencial do PT, o único partido que revelou suas estimativas, deverá custar 190 milhões de reais. Quase 90% dessa fortuna será gasta com propaganda destinada a edulcorar o perfil de sua candidata, Dilma Rousseff. Isso não é uma distorção inventada pelo PT. Há tempos os políticos se convenceram de que devem criar um avatar triunfante, simpático e infalível que, nas eleições, substitua sua carranca humana. A oposição deve gastar soma semelhante com esse mesmo objetivo.

Uma reportagem desta edição de VEJA sobre o filme Lula, o Filho do Brasil mostra que disfarçar peças de propaganda em produções culturais é uma maneira de turbinar a imagem dos políticos sem incorrer em gastos. Pago por empresas privadas com interesses no governo, o filme é um novelão melodramático que expurga fatos biográficos, endeusando o homem, com óbvias repercussões eleitorais positivas para a candidata da situação. A fita faz parte de um projeto mais amplo de transformar Lula em mito. Os arquitetos dessa estratégia, que agem muitas vezes à revelia do próprio Lula, sonham em criar uma imagem santificada do atual presidente.

O filme dá sua mãozinha. "A narração de Lula, o Filho do Brasil é encadeada como a vida de Cristo, do nascimento na manjedoura à ressurreição gloriosa", revela Isabela Boscov, crítica de cinema de VEJA. A ideia ao manter o fantasma de Lula tão presente na vida política nacional como o do velho rei Hamlet na peça de Shakespeare é produzir a impressão de que o novo presidente eleito é apenas um usurpador. Esse quadro ofereceria risco para a estabilidade política, mas também para Lula. Ele ganharia muito se agisse nesse caso com a mesma sabedoria que o levou a abortar as tentativas dos bolsões radicais mas sinceros do petismo de abrir caminho para o terceiro mandato.

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