Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 14, 2009

A reação da indústria automobilística

O planeta volta a girar

Com o impulso da China, que deverá ultrapassar os EUA como o maior
mercado mundial de carros, a indústria automobilística reage e deixa a crise


Luís Guilherme Barrucho

Imaginechina
SONHO DE CONSUMO
O F3, da Build Your Dreams (BYD): sedã inspirado no Corolla é o líder de vendas na China


No fim da década de 70, uma comitiva do alto escalão do Partido Comunista Chinês fez uma visita inesperada à sede da Volkswagen na Alemanha. A intenção era discutir uma possível parceria com a montadora europeia. Em meio às conversas, os chineses encantaram-se com um projeto em especial. Era o Santana, que se tornou o carro oficial do PCC. Três décadas depois, o automóvel, que deixou de ser fabricado no Brasil, ainda está entre os mais vendidos na China, mas passou a dividir espaço com uma centena de outros modelos que vêm impulsionando a retomada mundial do setor após a maior crise financeira desde a Grande Depressão. De janeiro até outubro, foram comercializados 8,2 milhões de automóveis na China, um aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano passado. Caso esse ritmo seja mantido pelos próximos dois meses, o país superará os Estados Unidos, até agora o maior mercado do globo, pela primeira vez na história. Também há sinais de recuperação no Ocidente. Depois de uma grande reestruturação, que incluiu fechamento de fábricas e demissões em massa, as principais empresas americanas do setor estão conseguindo reerguer-se.

"Com o retorno do crédito e do poder de compra com o fim da crise, a tendência é que a venda de veículos volte a crescer", afirmou Paulo Cardamone, vice-presidente da consultoria CSM para a América do Sul. A China é o atual eldorado do setor. Na última década, a venda anual de carros aumentou vinte vezes. Neste ano, 12 milhões de unidades deverão ser compradas pelos chineses.

Punit Paranjpe/Reuters
VAI PEGAR?
O compacto retrô Fiat 500, que será vendido nos Estados Unidos


Nos Estados Unidos, onde as vendas já acumulam queda de 25% neste ano, as principais fabricantes de veículos começaram, pouco a pouco, a colher resultados animadores. Após a ajuda governamental, a Chrysler e a General Motors conseguiram emergir reestruturadas do processo de concordata. Na GM, a reviravolta significou o fechamento de fábricas e a venda de marcas, como a Hummer. Mas ela não precisou se desfazer da Opel, sua unidade europeia. No início do mês, foi a vez de a Ford, a única fabricante americana que não recebeu empréstimos emergenciais, exibir números positivos. A empresa contrariou as expectativas e anunciou lucro de 1 bilhão de dólares no terceiro trimestre. "Entramos em uma trajetória de crescimento duradouro a partir de agora", disse o presidente da companhia, Alan Mulally. "Prevejo resultados sólidos a partir de 2011."

Rebecca Cook/Reuters
NO AZUL
Alan Mulally, presidente da Ford: a única grande americana que não recorreu à ajuda do governo


No Brasil, o comércio de carros também reagiu. Assim como na Alemanha e em outros países, contribuíram para isso programas de estímulo realizados pelos governos - no caso nacional, a redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI). Os efeitos foram positivos. Segundo estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de veículos devem bater recorde histórico neste ano ao superar 3 milhões de unidades. Mas ainda há um longo caminho a percorrer, conforme afirmou a VEJA Jackson Schneider, presidente da entidade: "O governo criou condições para que o mercado reagisse. Entretanto, temos ainda uma estrutura tributária muito complexa, o que impede maiores ganhos".

Com o fim dos incentivos governamentais, todo o mercado de carros deverá ser reconfigurado. Diversas fabricantes de veículos já demonstraram interesse em produzir automóveis pequenos e híbridos. Ao assumir a combalida Chrysler, a italiana Fiat anunciou que venderá modelos compactos como o Fiat 500 nos Estados Unidos. Mas não se sabe ao certo se a moda vai pegar. Disse a VEJA o diretor da consultoria IHS Global Insight John Wolkonowicz: "A realidade americana é muito diferente da que se tem na Europa, onde existe um transporte público eficiente, as distâncias entre as cidades são menores e o combustível é mais caro. Além disso, a cultura é menos individualista". Sem dúvida, fazer os americanos trocar suas vans e picapes por veículos do tamanho de um Fusca seria uma revolução similar à feita pelos chineses nas três últimas décadas.



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