Um passo gigante
Sonda que se chocou com a Lua indica que há água em abundância em
seu subsolo
Handout/Nasa/Reuters |
Missão cumprida A sonda Lcross e o foguete arremessado para se chocar com a Lua, em desenho da Nasa (à esq.), e a nuvem formada pelo impacto(no detalhe): cheia de vapor-d’água |
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A Lua que se ergue no céu desde a noite de sexta-feira passada é um astro diferente daquele a que a humanidade se acostumou. Horas antes, os cientistas da agência espacial americana, a Nasa, revelaram que existe água no satélite terrestre, provavelmente em grande quantidade. Essa é uma das mais espetaculares descobertas recentes da astronomia. Fazia tempo se especulava sobre a existência de água em forma de gelo sob o pedregoso solo lunar, principalmente por causa da presença de hidrogênio nas regiões dos polos, mas nunca se havia obtido uma prova concreta. A evidência surgiu agora com a análise das informações colhidas pela sonda Lcross. No dia 9 de outubro, um foguete carregado pela sonda foi arremessado em direção a Cabeus, no Polo Sul lunar, à velocidade de uma bala de revólver. O impacto levantou uma nuvem de 1,5 quilômetro de altura. Antes de também se chocar com a Lua, a sonda recolheu-se e enviou para a Terra uma série de informações sobre os materiais que formaram a nuvem. Depois de analisarem essas informações no último mês, os cientistas concluíram que grande parte da nuvem era formada de vapor-d’água.
A presença de água em forma de gelo na Lua, em regiões que nunca recebem a luz do Sol, como o Polo Sul, pode proporcionar uma valiosa fonte de estudos sobre as origens e a formação do sistema solar. Da mesma forma que a análise das camadas profundas de gelo na Terra permite reconstituir o passado do planeta. Além disso, a água lunar será de utilidade inestimável para futuras missões tripuladas ao satélite. A Nasa planeja montar uma base permanente na Lua em 2020, com vistas a uma expedição a Marte. Nesse caso, a água lunar serviria aos habitantes da base. Além disso, o hidrogênio e o oxigênio contidos na água poderiam ser convertidos em combustível para foguetes.
Os cientistas apresentam quatro possibilidades para explicar a presença de água na Lua. Ela pode ter chegado ao satélite a bordo de cometas, astros formados por gelo e poeira. Outra hipótese leva em conta o fato, hoje amplamente aceito pela ciência, de que a Lua seja um pedaço da Terra que se desprendeu após um enorme impacto com outro astro. Assim, a água lunar teria origem na Terra. Outra teoria diz que a água chegou ao satélite por meio dos ventos solares, tempestades de partículas constantemente liberadas pelo Sol. Entre essas partículas está o hidrogênio, que pode ter interagido com o oxigênio contido nas rochas lunares. Por fim, há a possibilidade de a água ter chegado à Lua por intermédio das nuvens moleculares que atravessam o sistema solar em alta velocidade. Seja qual for a origem da água lunar, sua descoberta representa um passo gigante para a ciência.