O Estado de S. Paulo - 16/07/2009 |
O Banco do Povo da China (banco central) anunciou ontem que as reservas em moeda estrangeira da China chegaram ao fim de junho aos US$ 2,132 trilhões. Aí há mais que um número. Há fatos carregados de significado não só para a China, mas também para o Brasil. Até recentemente, a sobra de moeda estrangeira que obrigava o banco central chinês a convertê-la em reservas procedia preponderantemente do superávit comercial (exportações mais altas do que importações). Mas, dos US$ 178 bilhões acumulados no segundo trimestre, apenas US$ 34,8 bilhões provieram do superávit comercial. Outros US$ 21,1 bilhões corresponderam a investimentos estrangeiros diretos e nada menos que US$ 80,6 bilhões (45%) decorreram da entrada de aplicações especulativas, principalmente em ações e imóveis. Agora convém fazer uma pausa para entender o jogo que o economista Niall Ferguson está chamando de Chimérica. Trata-se do arranjo que prevalece há pelo menos 15 anos entre China e Estados Unidos. A China fornece mercadorias baratas para os Estados Unidos. Como suas exportações superam em muito as importações, os dólares do superávit vão para as reservas e voltam para os Estados Unidos como compras de títulos do Tesouro americano. Na prática, as reservas chinesas refinanciam o consumo americano que, por sua vez, garante exportações chinesas, que formam as reservas, que são investidas em títulos americanos... A novidade está em que as reservas chinesas começam a se formar principalmente com o influxo de capitais especulativos. Como há cerca de US$ 12 trilhões em dinheiro novo inundando os mercados, é natural que parte dessa dinheirama tome o rumo dos mercados também novos, onde as coisas acontecem. Vai ser interessante saber como as autoridades chinesas reagirão a essa invasão, que pode ser considerada hostil, porque não envolve mais aumento da produção e incorporação de mão de obra. Limita-se à especulação. A nova ameaça é a de que produza bolhas de ativos (ações e imóveis), o que parece não interessar nem um pouco ao governo. A pressão imediata é por uma valorização do yuan - a moeda chinesa também chamada renmimbi -, algo a que as autoridades da China têm resistido com veemência. Mas talvez o impacto do movimento especulativo seja tão forte que as obrigue a controlar o novo afluxo. A conferir. Em certa medida, é possível dizer que a China de hoje será o Brasil de amanhã. Parece inevitável que as mesmas forças que estão bombeando recursos especulativos para a China os acabem despachando também para o Brasil - que é o B dos Brics, e emergente em ascensão. Afinal, não é só o presidente Lula que avisa que o Brasil sairá desta crise melhor do que estava quando entrou. Se tiver crescimento econômico zero neste ano, o Brasil apresentará o quinto ou o sexto melhor desempenho de PIB no mundo. Caso isso se confirme, as pressões sobre o real também serão fortes. Mais entrada de recursos tende a derrubar o dólar no câmbio interno. O Banco Central do Brasil seguirá comprando dólares para as reservas. Ainda está para ser definido até quando vale a pena empilhar títulos em dólares num ambiente em que o dólar ameaça virar mico global. Cenário Risco Serra? - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, começa a pisar no calo dos tucanos ao advertir que eles têm pré-candidato que não inspira segurança. O governador José Serra é declaradamente hostil à atual política econômica. Quando repete que está tudo errado no câmbio e nos juros, insinua que, se chegar lá, pretende mudar tudo, no câmbio e nos juros. Na falta de esclarecimentos, ninguém sabe o que isso significa. Se as estocadas começaram mais de um ano antes das eleições, imagine-se o arsenal do gênero a ser aprontado contra a candidatura Serra. |
Entrevista:O Estado inteligente
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