O GLOBO 05/04/2009
Antes mesmo de acusar os “brancos de olhos azuis” pela crise econômica internacional, uma das críticas recorrentes do presidente Lula era aos yuppies de Wall Street que “faziam avaliações sem conhecer a América do Sul”, em referência aos jovens analistas de mercado que tinham (ou têm) poder de decretar que países merecem a confiança dos investidores.
Afora o fato de que, quando o Brasil recebeu o grau de investimento das agências de risco definido pela avaliação desses mesmos yuppies, o presidente Lula se vangloriou de que o país era “uma potência no mercado de capitais internacional” e disse que estávamos quase “entrando no paraíso”, teremos no próximo ano uma conjunção delicada de eleições presidenciais e crise econômica, o que pode ser determinante tanto na definição eleitoral quanto na solução da crise.
E não é apenas no Brasil que essa conjunção de fatores ocorre: em nada menos que 11 países da América Latina ocorrerão eleições presidenciais entre 2010 e 2012, e existe a possibilidade concreta de que a recuperação econômica da região fique dependente de como evoluirão os acontecimentos políticos.
Há analistas que temem que, mesmo que os Estados Unidos se recuperem em 2010, países da América Latina retardem essa recuperação em consequência de medidas políticas que tomarem no ano eleitoral.
A crise econômica pode provocar também uma onda de populismo econômico, para explorar o descrédito do sistema financeiro internacional, que pode dar votos ao candidato que assim se comportar, mas certamente não dará equilíbrio econômico ao país.
Um trabalho dos economistas Sebastián Nieto Parra e Javier Santiso, feito para a Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os 30 países mais ricos do mundo, analisou o impacto das eleições presidenciais na América Latina nas recomendações de investimentos na região por 13 dos principais agentes financeiros, de 1997 a 2008.
O estudo chegou à conclusão de que os ciclos eleitorais têm influência determinante sobre as recomendações de investimento, sendo que a percepção desses agentes se deteriora fortemente nos anos de eleição presidencial.
O exemplo mais marcante nesse campo, em especial para o presidente Lula, foi o “lulômetro” criado pelo banco americano de investimento Goldman Sachs na eleição presidencial de 2002, que piorava à medida que aumentavam as chances de Lula ser eleito presidente.
Segundo o estudo, a análise dos banqueiros depende da credibilidade dos planos econômicos dos candidatos, e dos sinais emitidos por eles durante a campanha.
Se a percepção dos banqueiros internacionais for de que o candidato não está comprometido com uma política macroeconômica equilibrada, o país pode até mesmo sofrer um rebaixamento em seu grau de investimento.
O estudo da OCDE mostra também o reverso da situação, isto é, a tendência de que o mercado, por sua aversão a incertezas e a políticas heterodoxas, restrinja as opções políticas viáveis.
Existem algumas situações emblemáticas de como a economia pode influir nas questões políticas, de acordo com o estudo, como a tendência dos bancos de investimento de sugerir a seus clientes que adiem seus investimentos na América Latina até depois da definição da eleição presidencial.
Há também a tendência de recomendar que os investidores retirem suas aplicações nos países que estão em ano eleitoral, o que pode provocar uma fuga de capitais que terá influência na política daquele país.
Um comportamento que já não é tão comum na região, mas que marcou sua política por alguns anos, é o de governantes em fim de mandato aumentarem os gastos públicos, ou adiarem medidas duras, como desvalorizações cambiais, deixando para o governo entrante as medidas de ajuste.
O estudo da OCDE mostra que todas as principais crises financeiras latino-americanas dos últimos quinze anos aconteceram em anos eleitorais, como no México em 1980 e 1994, a crise da desvalorização do Real em 1999 e a crise econômica da Argentina em 2001.
Com a reeleição no Brasil, criou-se a situação paradoxal de que postergar medidas pode afetar o próprio reeleito, mas pode também facilitar sua eleição, como foi o caso de Fernando Henrique Cardoso, que retardou a desvalorização do real para se reeleger, e acabou tendo que fazê-lo no início de seu segundo mandato.
Também o presidente Lula, empenhado em eleger seu sucessor, está abandonando aos poucos o equilíbrio fiscal e se comprometendo com aumentos salariais cujos compromissos vão além de seu governo.
O estudo conclui que, para entender o mercado financeiro, é preciso uma análise de política econômica, tamanha a complexidade da interação entre a política e a economia.
O nome do jogo é confiança, e o compromisso dos candidatos e dos partidos é crucial para os agentes financeiros nesses momentos eleitorais.
Já na eleição de 2002 houve a necessidade de o candidato Lula, em meio à desconfiança dos mercados financeiros, lançar sua “Carta aos Brasileiros” assumindo compromissos com a estabilidade econômica.
O economista Javier Santiso, um dos autores do estudo, acha que esse é um caminho para evitar crises econômicas.
Em entrevista a Andrés Oppenheimer, do “Miami Tribune”, diz que tanto os governos como as oposições deveriam incentivar o que chamou de “pactos de credibilidade” para minimizar os impactos econômicos antes das eleições.
Entrevista:O Estado inteligente
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