O Estado de S. Paulo - 30/04/2009 |
O governador José Serra não gosta da atual política econômica. Desde os tempos de ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique, Serra não para de atacar quase tudo o que está aí, quase como os antigos dirigentes do PT. Esse quase é importante porque Serra se diferencia da chamada ala desenvolvimentista dos economistas brasileiros na medida em que defende rigoroso equilíbrio fiscal na administração pública. Mas, em relação aos demais pilares da atual política econômica, diverge frontalmente. Para ele, estão erradas as políticas monetária e cambial. Serra nunca deixou claro o que gostaria de ver na política de metas de inflação, pela qual o Banco Central deve usar os juros (volume e preço do dinheiro na economia) unicamente para empurrar a inflação para dentro da meta. No mínimo, a considera mal executada. Ou, como avisou segunda-feira, entende que a atual política monetária (política de juros) não trabalha para dar cumprimento à meta de inflação, mas para valorizar o real (derrubar as cotações do dólar) e, dessa forma, tirar competitividade do sistema produtivo ante a concorrência externa. Seria precipitado afirmar que o governador defende uma estratégia intervencionista no câmbio e a derrubada implacável dos juros a canetadas. Mas muitas vezes é o que sugerem suas declarações. A única maneira de obter a derrubada de juros sem artificialismos seria abrir espaço para uma rígida política fiscal (austeridade nas despesas). Assim, os juros cairiam quase naturalmente, pela simples redução da dívida pública. Essa também parece ser a proposta do ex-ministro Delfim Netto quando prega a definição de um déficit nominal zero das contas públicas, ou seja, o equilíbrio entre receitas e despesas do governo, incluída nestas também a conta dos juros da dívida pública. Num quadro desses, a política de juros não seria excessivamente pressionada porque não teria de fazer o serviço que a política fiscal hoje deixa de fazer. Até agora, os ataques à política econômica feitos pelo ministro, depois prefeito de São Paulo e depois governador, José Serra, não foram fortemente questionados porque a probabilidade de ele vir a segurar as rédeas do governo foi relativamente pequena. Mas, conforme aumenta o apoio popular à sua candidatura e se aproximam as eleições de 2010, a opinião de Serra vai ser crescentemente levada em conta. Até 2002, o então presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, manifestava-se drasticamente contra a política econômica do seu antecessor, Fernando Henrique. Mas, em junho daquele ano, assinou a Carta ao Povo Brasileiro em que se comprometeu a manter as vigas mestras dessa estrutura. Com isso, Lula afastou o voto de desconfiança que começava a ser armado contra sua candidatura e seu futuro governo. Muita gente argumenta que o atual discurso de Serra não passa de dialética eleitoral e que, uma vez no governo, beijará a cruz, como Fernando Henrique e Lula beijaram. Mas não dá para esquecer de que estas posições do governador Serra são rigorosamente as mesmas que sustentava quando não só era governo, como, também, quando era ministro da área econômica de Fernando Henrique. A hora dos bancos - Confirmado o corte da Selic em 1 ponto, as atenções se voltam para os bancos: a ver se continuam baixando juros só burocraticamente nas operações de crédito. |
Entrevista:O Estado inteligente
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