O GLOBO
Os juros caem hoje. A queda da Selic deve ser de um ponto percentual. É o começo de um período de juros baixos. O economista José Roberto Mendonça de Barros acha que o país caminha, felizmente, para juros de um dígito, um sonho antigo. Não será nesta reunião do Copom, mas na próxima. Até que ponto eles podem cair sem mudar a poupança? A Anbid fala numa taxa em torno de 9%.
Nem tudo é boa notícia. Para o Credit Suisse, a queda dos juros não elevará o crédito e nem reduzirá os juros para pessoa física. A boa notícia é que todos concordam que o país caminha para uma taxa básica de um dígito. Mendonça de Barros acha que os juros vão cair mais nas próximas reuniões e a taxa chegará ao fim do semestre em 9,25%. Marcelo Giufrida, presidente da Anbid, acha que isto levará o país a mudar a remuneração da poupança, mas garante que a mudança não será para afastar um concorrente da indústria de fundos, que segundo ele tem R$700 bilhões, mas porque todos os produtos financeiros devem ter condições "neutras" de competição.
- A mudança da poupança não é para garantir a competitividade dos fundos, mas para haver um equilíbrio entre todos os produtos financeiros, seja as debêntures das empresas, os CDBs dos bancos, seja o Tesouro Direto - diz Giufrida.
Mendonça de Barros vê a necessidade de um novo ciclo da desindexação.
- Esta é a terceira vez que o país chega perto dessa discussão. A primeira foi em 96 e 97, quando os juros começaram a cair, mas aí Francisco Lopes desenvolveu a TR para dar mais um passo na desindexação. Depois foi em 2001, mas houve a crise do apagão e os juros voltaram a subir. Agora, os juros estão caindo e vão ficar baixos por longo tempo. É hora de enfrentar o resíduo da indexação no Brasil. A discussão é por uma boa causa - diz.
Para ele, há duas boas novidades no Brasil.
- Pela primeira vez, desde JK, houve uma desvalorização cambial de mais de 20% e a inflação não subiu. A outra é que há uma boa chance de os juros ficarem em um dígito por longo tempo. Isso é fruto de 20 anos de trabalho pela estabilização brasileira.
Há quem aponte, no mercado financeiro, que antes de haver mudança na poupança, seria importante que os bancos, principalmente os grandes, reduzissem suas taxas de administração.
- Há fundos com 3% ou 4% de taxa de administração em produtos de varejo. Isso é absurdo. Eles precisam rever isso - diz um economista.
Giufrida acha que a discussão está mal colocada dessa forma.
- A Anbid tem monitorado as taxas, elas estão caindo nos últimos anos para uma taxa média de 1%. É um erro pegar a taxa máxima e tratar como média - conta.
É um erro também ver só a média, sem olhar os exageros. A Anbid tem dados até fevereiro que mostram queda nos últimos anos em todas as taxas, mas é possível encontrar produtos com taxas de 2% a 2,5% na renda variável. Ou de 2% em renda fixa. E até 4% ou mais na renda fixa de aplicação automática.
- Durante anos a poupança apanhou feio da estrutura de taxa de juros no Brasil e ficou por isso mesmo. Agora, se pensa primeiro em mudar a remuneração da poupança. Há um preço novo na economia, os juros estão baixando, e todos terão que se adaptar a isso, inclusive os bancos, com suas taxas de administração - diz um economista.
A Anbid discorda de mudanças que podem criar distorções para tentar contornar o problema de que os fundos podem perder a competição para a poupança.
- Não se pode criar artificialismos, como permitir que a poupança aplique em títulos. Sua especialidade sempre foi o financiamento de longo prazo na área habitacional. Não vamos dizer como deve ser a mudança da remuneração da poupança porque a Anbid não entende disso. Queremos que as regras sejam mais neutras, para que todos os produtos possam competir entre si - conta Giufrida.
Como se vê, o passo de hoje não é trivial. A queda de um ponto levará os juros para 10,25%. Se cair um ponto e meio já estará em um dígito. Em qualquer caso, uma boa notícia. O governo tem errado ao especular sobre a mudança das regras de remuneração, ou quando tenta politizar isso, dizendo que o faz para proteger o pequeno poupador. Está pensando em alterar as regras porque teme dificuldades de rolagem da dívida que é feita pelos fundos. E deve esclarecer como será a mudança.
A queda dos juros incentivará o crédito? O Credit Suisse acha que não. Num estudo a que a coluna teve acesso, o banco conclui que o aumento na inadimplência fará com que o ritmo de expansão de crédito caia de 24% em 2008 para apenas 4% neste ano. Eles estimam que a inadimplência média subirá para 8,6% em 2009, podendo chegar a 9% durante o terceiro trimestre. Além disso, o banco prevê um aumento da inadimplência do crédito livre, com exceção do consignado. O aumento do desemprego também contribuirá para o não pagamento de prestações. O CSFB prevê uma contração de 0,5% nos postos de trabalho esse ano e uma redução de rendimentos reais de 3,5%. Os bancos vão ficar também mais seletivos, dando menos empréstimos a pessoas físicas e elevando as taxas. Ainda há um longo caminho até o Brasil ter taxas de juros normais.
Os juros caem hoje. A queda da Selic deve ser de um ponto percentual. É o começo de um período de juros baixos. O economista José Roberto Mendonça de Barros acha que o país caminha, felizmente, para juros de um dígito, um sonho antigo. Não será nesta reunião do Copom, mas na próxima. Até que ponto eles podem cair sem mudar a poupança? A Anbid fala numa taxa em torno de 9%.
Nem tudo é boa notícia. Para o Credit Suisse, a queda dos juros não elevará o crédito e nem reduzirá os juros para pessoa física. A boa notícia é que todos concordam que o país caminha para uma taxa básica de um dígito. Mendonça de Barros acha que os juros vão cair mais nas próximas reuniões e a taxa chegará ao fim do semestre em 9,25%. Marcelo Giufrida, presidente da Anbid, acha que isto levará o país a mudar a remuneração da poupança, mas garante que a mudança não será para afastar um concorrente da indústria de fundos, que segundo ele tem R$700 bilhões, mas porque todos os produtos financeiros devem ter condições "neutras" de competição.
- A mudança da poupança não é para garantir a competitividade dos fundos, mas para haver um equilíbrio entre todos os produtos financeiros, seja as debêntures das empresas, os CDBs dos bancos, seja o Tesouro Direto - diz Giufrida.
Mendonça de Barros vê a necessidade de um novo ciclo da desindexação.
- Esta é a terceira vez que o país chega perto dessa discussão. A primeira foi em 96 e 97, quando os juros começaram a cair, mas aí Francisco Lopes desenvolveu a TR para dar mais um passo na desindexação. Depois foi em 2001, mas houve a crise do apagão e os juros voltaram a subir. Agora, os juros estão caindo e vão ficar baixos por longo tempo. É hora de enfrentar o resíduo da indexação no Brasil. A discussão é por uma boa causa - diz.
Para ele, há duas boas novidades no Brasil.
- Pela primeira vez, desde JK, houve uma desvalorização cambial de mais de 20% e a inflação não subiu. A outra é que há uma boa chance de os juros ficarem em um dígito por longo tempo. Isso é fruto de 20 anos de trabalho pela estabilização brasileira.
Há quem aponte, no mercado financeiro, que antes de haver mudança na poupança, seria importante que os bancos, principalmente os grandes, reduzissem suas taxas de administração.
- Há fundos com 3% ou 4% de taxa de administração em produtos de varejo. Isso é absurdo. Eles precisam rever isso - diz um economista.
Giufrida acha que a discussão está mal colocada dessa forma.
- A Anbid tem monitorado as taxas, elas estão caindo nos últimos anos para uma taxa média de 1%. É um erro pegar a taxa máxima e tratar como média - conta.
É um erro também ver só a média, sem olhar os exageros. A Anbid tem dados até fevereiro que mostram queda nos últimos anos em todas as taxas, mas é possível encontrar produtos com taxas de 2% a 2,5% na renda variável. Ou de 2% em renda fixa. E até 4% ou mais na renda fixa de aplicação automática.
- Durante anos a poupança apanhou feio da estrutura de taxa de juros no Brasil e ficou por isso mesmo. Agora, se pensa primeiro em mudar a remuneração da poupança. Há um preço novo na economia, os juros estão baixando, e todos terão que se adaptar a isso, inclusive os bancos, com suas taxas de administração - diz um economista.
A Anbid discorda de mudanças que podem criar distorções para tentar contornar o problema de que os fundos podem perder a competição para a poupança.
- Não se pode criar artificialismos, como permitir que a poupança aplique em títulos. Sua especialidade sempre foi o financiamento de longo prazo na área habitacional. Não vamos dizer como deve ser a mudança da remuneração da poupança porque a Anbid não entende disso. Queremos que as regras sejam mais neutras, para que todos os produtos possam competir entre si - conta Giufrida.
Como se vê, o passo de hoje não é trivial. A queda de um ponto levará os juros para 10,25%. Se cair um ponto e meio já estará em um dígito. Em qualquer caso, uma boa notícia. O governo tem errado ao especular sobre a mudança das regras de remuneração, ou quando tenta politizar isso, dizendo que o faz para proteger o pequeno poupador. Está pensando em alterar as regras porque teme dificuldades de rolagem da dívida que é feita pelos fundos. E deve esclarecer como será a mudança.
A queda dos juros incentivará o crédito? O Credit Suisse acha que não. Num estudo a que a coluna teve acesso, o banco conclui que o aumento na inadimplência fará com que o ritmo de expansão de crédito caia de 24% em 2008 para apenas 4% neste ano. Eles estimam que a inadimplência média subirá para 8,6% em 2009, podendo chegar a 9% durante o terceiro trimestre. Além disso, o banco prevê um aumento da inadimplência do crédito livre, com exceção do consignado. O aumento do desemprego também contribuirá para o não pagamento de prestações. O CSFB prevê uma contração de 0,5% nos postos de trabalho esse ano e uma redução de rendimentos reais de 3,5%. Os bancos vão ficar também mais seletivos, dando menos empréstimos a pessoas físicas e elevando as taxas. Ainda há um longo caminho até o Brasil ter taxas de juros normais.