Givaldo Barbosa/Ag. O Globo |
Não adianta chorar O senador Gerson Camata, do PMDB do Espírito Santo, ao reconhecer que recebe auxílio-moradia, apesar de ter casa própria em Brasília |
Há duas maneiras de enxergar as crises, não importa a sua natureza: a pessimista, segundo a qual as tormentas são prenúncio do caos inevitável, e a otimista, que vê nas procelas, para além do risco, oportunidade. A atual crise que se desenrola no Congresso – não propriamente política, mas de compostura, honestidade e espírito público – é de fato um espetáculo deprimente aos olhos dos cidadãos que trabalham, estudam e pagam impostos. São compreensíveis (e desejáveis) o estupor e o desprezo em relação aos deputados e senadores que burlam os códigos de conduta mais comezinhos e agem na Câmara e no Senado como se as duas casas do Legislativo formassem um clube de privilegiados – que se reúnem apenas para tocar seus negócios pessoais e desfrutar os confortos exclusivos que eles mesmos se concedem. Para citar alguns: viagens de graça pelo Brasil e para o exterior, extensivas a familiares e amigos, décimo quinto salário, serviço médico e cirúrgico gratuito e semana de três dias de trabalho em Brasília.
Os pessimistas são levados a acreditar que esse estado de coisas não tem mesmo jeito, inclusive porque, para além dos privilégios autoconcedidos, a maior parte dos políticos brasileiros se guia pelo fisiologismo nas votações de matérias cruciais para o bom funcionamento do país. O risco dessa visão negativa é o seu corolário: a desmoralização do regime democrático. Não poderia haver equívoco maior, porque é justamente no fortalecimento da democracia que reside o antídoto contra os desmandos de deputados e senadores. Está longe de ser uma ingenuidade perceber na atual crise uma oportunidade: a de depuração do sistema que resulta em tão pouco trigo em meio a tanto joio. Nesta edição de VEJA, além da reportagem que relata os absurdos
na Câmara e no Senado, outra elenca as propostas de reforma que visam a uma melhoria da representatividade política. Mas é a ilustração de capa que sintetiza a atitude mais essencial nesse sentido. Cabe aos eleitores escolher nas urnas quem entra, quem continua e quem precisa ser mandado para o monturo.