Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 12, 2008

E o Banco Central piscou...

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS


A dissidência entre os membros do Copom, para definir o novo aumento da Selic, surpreendeu a todos

NA ÚLTIMA reunião do Copom, a surpresa ficou por conta da dissidência entre seus membros na fixação do aumento da taxa Selic. Dos oito diretores que votaram, três defenderam o aumento de 0,5 ponto percentual e cinco votaram pelo aumento de 0,75 ponto. O mercado financeiro sabe ler muito bem as entrelinhas dessa decisão e o que representa um Copom rachado.
Até recentemente, o presidente do Banco Central vinha afirmando que a política monetária estava sendo calibrada para que a inflação chegasse ao centro da meta ainda em 2009.
Para que isso acontecesse, os juros teriam de chegar a algo próximo a 15,5% ao ano rapidamente, segundo os modelos econométricos da maioria dos analistas. Não por outra razão, as expectativas apontavam para pelo menos três aumentos seqüenciais de 0,75 ponto. Nessa hipótese, a elevação da taxa Selic chegaria a 4,25 pontos neste período de aperto da política monetária. Por isso, a surpresa de todos -inclusive deste que vos escreve- com a forte dissidência ocorrida. Não estava no script de ninguém.
Ontem, a atenção do mercado esteve voltada para as razões dessa súbita mudança no Copom, mesmo depois da divulgação de dados que reforçavam uma posição mais dura.
Os números do PIB (Produto Interno Bruto) foram mais fortes do que o esperado, principalmente a chamada absorção interna. Essa medida ampla dos gastos dos brasileiros -inclui os consumidores, as empresas e o governo- superou as expectativas. Também houve importante revisão para cima do crescimento da economia como um todo para 2008.
Previa-se uma desaceleração para algo próximo a 4,7%; hoje, o número mais encontrado é um crescimento da mesma ordem -5,5%- do verificado em 2007.
Outras informações conhecidas recentemente vieram também na direção, a princípio contrária, de uma dissidência tão forte: o nível elevado da capacidade ocupada na indústria -Nuci- e a significativa desvalorização do real nos últimos dias. Ambos apontam na direção de pressões inflacionárias pela frente.
Afinal, por que apareceu então a dissidência? Por que piscaram? Na última semana, refleti sobre um fato novo que pode estar associado a esse comportamento. Estamos vivendo um aperto adicional de crédito por conta de uma nova onda de incertezas. Ela está associada ao movimento de alta da moeda americana nos mercados de câmbio e às movimentações nos preços de vários ativos. Fuga de mercados emergentes, queda livre nos preços das ações e problemas nos mercados de crédito para empresas privadas marcaram os últimos dias. Já são conhecidos pelo menos dois casos de empresas brasileiras que não conseguiram levar adiante empréstimos externos.
Outra possibilidade para a piscada é uma leitura menos otimista do PIB e da dinâmica mais recente da economia. O PIB se refere ao segundo trimestre e não é surpresa que tenha sido forte. A maioria das simulações indicava, havia muitos meses, que antes de meados do ano não haveria tempo para que a economia mostrasse sinais concretos de desaquecimento. Mas, em termos prospectivos, a equipe da Quest tem uma avaliação menos eufórica e consegue ver fortes indícios de uma desaceleração já contratada para o fim de ano.
Se combinarmos esses dois fatores -restrição adicional de crédito e uma avaliação de que em breve haverá sinais mais claros de desaceleração da economia-, podemos entender o resultado do último Copom.

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